Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 06, 2007

O PERIGO VENEZUELANO por Denis Rosenfield


Tudo indica que a esquerda latino-americana não conhece mais limites. Em nome, por exemplo, da luta antiimperialista, Chávez está criando uma corrida armamentista em nosso continente. O discurso pela paz não mais é do que um engodo, feito para enganar os que ainda acreditam nessa mensagem "socialista". Ou como costuma dizer o ditador-presidente: o futuro pertence ao "socialismo do século XXI"!

O programa liberticida desse ditador não deixa qualquer lugar a dúvidas, sobretudo para aqueles que não se deixam encobrir pelo espesso véu da ideologia esquerdista. Seu projeto de constituição lhe confere poderes próprios de um líder totalitário. Seus antecedentes são os do século XX: Stálin, Mao, Castro e outros. Suas ações imediatas consistem na abolição da propriedade privada, na anulação completa da divisão de Poderes, no controle da imprensa e da mídia em geral, no culto à personalidade, na formação de milícias, fortemente armadas, no controle estatal das manifestações públicas e na progressiva supressão dos direitos políticos. O mais surpreendente é que ele ainda suscite admiradores no Brasil! Será que a mentalidade de alguns é tão atrasada assim?

Quando se pensa na compra chavista de armamentos, forçoso é constatar que ela não pode, por definição, estar voltada contra os EUA. Seria risível querer contrapor um país ao outro em termos militares. A potência do norte precisaria apenas de alguns minutos para destruir todo o poderio militar venezuelano, com seus novos e modernos aviões, navios e mísseis. A disparidade é tão grande que o desfecho do confronto estaria de antemão decidido. Todo o resto é apenas retórica de um ditador loquaz!

Ora, se os EUA não podem constituir o seu alvo próprio, para o que serve esse grande esforço militar, feito em prejuízo da imensa maioria dos pobres e miseráveis daquele país? Várias hipóteses devem ser consideradas: a ) a militarização da vida nacional, principalmente por intermédio do armamento das milícias, que se voltariam contra o "inimigo" interno, a saber, todos os que se opõem ao ditador; 2) a criação de um fator externo de conflito, que seria utilizado quando as relações políticas se deteriorarem do ponto de vista do apoio ao ditador. Exemplos históricos, neste sentido, não faltariam. Veja-se o uso político que Stálin e Hitler fizeram de suas guerras; 3) a invasão da Guiana, com a qual a Venezuela já tem um contencioso territorial, equivalente a 2/3 do território desta ex-colônia inglesa; 4) a entrada numa disputa com a Colômbia, tendo como aliado interno as FARCS, que compartilham a mesma ideologia; 5) a intensificação da rivalidade com o Brasil, através de incursões na porosa fronteira entre esses países, colocando-se como a líder continental.

O Senador Sarney, figura discreta e avessa a grandes arroubos oratórios, saiu de sua natural discrição e com um discurso no Senado e entrevistas a jornais, mostrou toda a sua preocupação com essa situação. Chama particularmente atenção o seu distanciamento em relação ao governo Lula no que diz respeito a esse ponto crucial. Tanto mais significativo que o PT está tudo fazendo para que a Venezuela entre para o Mercosul, inclusive afirmando, contra toda evidência, que a democracia existe naquele país. O ex-presidente, judiciosamente, assinalou dois pontos que devem ser destacados: a) o Mercosul, numa iniciativa que data do seu governo e do ex-presidente Raul Alfonsin da Argentina, contempla, para o ingresso de novos membros, uma "cláusula democrática". Ou seja, essa união é uma união de países democráticos, que devem preencher as condições da democracia. A mera existência de eleições é claramente insatisfatória, como se apressou a dizer o senador. Cuba, exemplo de ditadura, também realiza eleições. A farsa não conhece limites. De toda evidência, como foi assinalado, a Venezuela não preenche essas condições; b) a corrida armamentista em curso é um grande desserviço para a América Latina, pois recursos que seriam mais bem aproveitados, por exemplo, para a redução da pobreza, são destinados a milícias ou à aquisição de aparelhos de guerra ultra modernos.

Será que o "socialismo do século XXI" não teria melhor destinação para esses recursos públicos? E a esquerda brasileira continuará a idolatrar o ditador-presidente? E o governo brasileiro, mais uma vez, curvará a cabeça? E as nossas Forças Armadas continuarão sucatadas?

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