Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 11, 2007

CLÓVIS ROSSI De gritos e de fatos

SÃO PAULO - Leio a manchete desta Folha de ontem ("Governo quer fatia maior do petróleo") e já começo a ouvir ao longe a gritaria: "É chavismo" (ou "chavizmo"?), "é estatismo". Calma, gente, senta que o leão pode não ser manso, mas não tem esse formato. Primeiro, Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez Frias são diferentes desde a pia batismal política, como demonstrará qualquer consulta a arquivos.
Segundo -e principal: a PDVSA, a estatal venezuelana do petróleo, busca o tal "socialismo do século 21". A Petrobras busca petróleo -e lucro, muito lucro. Pode-se gostar de um modelo ou de outro, mas não se pode ignorar a diferença.
Quanto ao "estatismo", aí, sim, ele de fato existe, mas é bom que exista. A Petrobras demonstrou que é possível a uma empresa estatal ser eficiente e lucrativa, sim, senhor, por incrível que possa parecer nos tempos que correm.
Em meio século, o Brasil passou da total e absoluta dependência do petróleo importado à perspectiva de tornar-se exportador. Mesmo que seja apenas perspectiva, por enquanto, não realidade concreta, é um avanço nada trivial, que se deve em boa medida à Petrobras.
Que estatais tenham tal desempenho não é de fato a regra, mas a organização de um país pode -e deve- contar também com as exceções, sem o maniqueísmo tolo de "abaixo o Estado" ou "morte ao capital privado". A vida real é um arco-íris, não o monótono preto-e-branco.
Mais: petróleo/energia é, sim, setor estratégico, no qual o papel do Estado continua sendo essencial para determinar ritmos e modos de exploração de recursos (tese que estou roubando de Vinicius Torres Freire, em conversa informal na sexta, e que permeou o editorial de ontem desta Folha). Que venham, pois, os gritos, mas que se ouçam também os sussurros -e outros argumento

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