O Estado de S. Paulo |
15/10/2007 |
Quer dizer que o governo Lula entrega o patrimônio nacional para empresas estrangeiras e não cobra nem um centavo por isso? De graça, as companhias espanholas vão ficar 25 anos cobrando pedágio e ganhando dinheiro com estradas construídas com imposto pago pelo contribuinte brasileiro! Quer dizer que o governo Lula monta um modelo de privatização que favorece o capital estrangeiro? Só multinacionais, que trazem capital de fora, mais barato, conseguem assumir pedágios tão baixos. Mais ainda: o dólar tão barato, outra proeza de Lula, favorece os estrangeiros, pois a tarifa em dólar fica maior e as companhias gastarão menos reais para enviar seus polpudos lucros aos acionistas lá fora. Nunca na história deste país um governo foi tão servil às empreiteiras multinacionais. Uma privataria! Essa turma que pede a reestatização da Vale, por ter sido vendida a “preço de banana”, não vai pedir uma “CPI da doação das estradas”? Aliás, deveria ser uma CPI ampliada, pois a Vale, entregue por FHC, acaba de ganhar de Lula um trecho enorme da Ferrovia Norte-Sul. Isso aí, pessoal. Quem quiser pode usar os motes acima, sem pagar direitos autorais. Tão de graça quanto as rodovias. Agora, está mesmo muito engraçado observar Lula, seus ministros e os formadores da opinião de esquerda defenderem seu modelo de privatização de rodovias. Muitos começam por apresentar a ressalva: não é privatização, é concessão. Tudo bem: concessão de uma via pública, construída pelo Estado, para uma empresa privada explorá-la por 25 anos, conforme regras, mas sempre sob a “ótica do lucro”. Depois, segue o argumento, ao contrário da privatização tucana, com seus pedágios caros e “elitistas”, a privatização, perdão, a concessão petista é popular-democrática, pois cobra pedágios bem baratinhos. Assim é, temos agora uma privatização tucana e outra petista. E - quer saber? - ficou melhor para o País. Resta uma discussão de método, os dois lados concordando que a empresa privada, nacional ou estrangeira, é mais competente para operar e oferecer ao usuário uma estrada de qualidade e eficiente para negócios e turismo. Isso posto, eis algumas observações razoáveis sobre o tema: Modelo de concessão - o governo, poder concedente, “dono” da estrada, pode ou não cobrar pela outorga da concessão. No primeiro caso, seria como cobrar um aluguel. As duas modalidades têm justificativas. Quando cobra, o governo faz caixa para, por exemplo, investir em estradas menos rentáveis (modelo adotado em São Paulo). Quando há cobrança, ganha o leilão a empresa que oferecer o pagamento mais alto, dentro de um padrão para os pedágios. Obviamente, o custo da operação é maior, de onde sai um pedágio mais caro. Já no caso dos últimos leilões federais, o governo Lula decidiu não cobrar a outorga. Ganhou a empresa que ofereceu pedágio mais barato. É um critério mais simples, melhor para o usuário, pior para o governo. De todo modo, o governo Lula pode se dar ao luxo de perder essa receita, pois está arrecadando como nunca na história deste país. Exigências impostas à concessionária - mais ou menos investimentos no início do contrato, maior ou menor qualidade do piso, quando se inicia a cobrança do pedágio. No caso do último leilão das sete rodovias federais, técnicos dizem que há exigências menores para o piso, por exemplo. A cobrança do pedágio é imediata, enquanto no caso das privatizações feitas em São Paulo (no governo Mário Covas), essa cobrança se fazia depois de feita parte das obras. Com isso o fluxo de caixa é menor, o custo da operação é maior. O ambiente macroeconômico - em momento de instabilidade, inflação e desarranjo das contas públicas, as empresas privadas só fazem negócio com o governo se tiverem garantias de que a rentabilidade não será reduzida. Preços começam mais elevados para prevenir choques futuros, como inflação ou desvalorização da moeda local. Por exemplo: a empresa estrangeira topa um pedágio de R$ 1,80, o equivalente a US$ 1. De repente, o real se desvaloriza e a cotação vai a R$ 3,60, fazendo com que a tarifa caia a US$ 0,5. E é evidente que o ambiente macroeconômico hoje é muito superior ao do momento em que foram feitas as concessões mais antigas. Há razoável convicção de que não haverá inflação, que os juros vão cair e que o dólar não vai disparar. Capacidade das empresas privadas - concessão de rodovias (e outros serviços) é um negócio relativamente novo. Só agora existem muitas companhias internacionais, entre as quais as espanholas, que desenvolveram enorme capacidade no setor. O Aeroporto de Heathrow, em Londres, é de propriedade de uma empreiteira espanhola. Por isso, no último leilão brasileiro, apareceram tantas empresas competindo. Isso é outro fator que derruba os preços. E mais: pedágio barato não é garantia de sucesso da operação. Em alguns países, como no México, o fracasso de concessões de rodovias teve como causa justamente o preço baixo do pedágio e os prazos menores de concessão (abaixo dos 20 anos). Com isso, as concessionárias, a um determinado momento, perceberam que não obteriam o retorno do capital e pararam de investir. O barato saiu caro. Por isso cuidado com as comparações entre os preços da última licitação e os das anteriores. O que sabemos é que as atuais estradas privatizadas vão muito bem, obrigado. São as melhores do País, têm o menor número de acidentes. O modelo funcionou. O novo modelo, dos pedágios baratos, ainda não foi testado - e só vai ser testado mesmo sabem quando? No próximo governo, no mesmo período, 2010/2011, em que se saberá se o novo modelo lulista deu conta do fornecimento de energia. É preciso admitir: na política e na mídia, o cara é craque.
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
segunda-feira, outubro 15, 2007
Privataria - Carlos Alberto Sardenberg
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
outubro
(454)
- Clipping de 31 de outubro
- Míriam Leitão - Faltou gás
- Merval Pereira - Educação e informação
- Dora Kramer - Na linha justa
- Clóvis Rossi - Orgulhosos, mas cegos
- Celso Ming - Tarefa de bombeiro
- A briga dos sem-força contra os sem-razão
- Fato consumado
- O investimento que Lula pede
- Villas-Bôas Corrêa : Uma pedra em cima, por enquanto
- AUGUSTO NUNES Um bufão cada vez mais perigosoe
- Una mujer con ideas y un estilo propios Por Joaquí...
- El domingo, ¿hubo una elección o una reelección? P...
- Merval Pereira - Armando o jogo
- Eliane Cantanhede - Mais diálogo com o Brasil
- Dora Kramer - Se colar, colou
- Clóvis Rossi - Sem Lula, 50 anos depois
- Celso Ming - Fruta madura
- Clipping 30 de outubro
- Clipping 29 de outubro
- Quilombos urbanos Denis Lerrer Rosenfield
- Estadão entrevista a escritora somali Ayaan Hirsi
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS
- Oportunidad para superar viejos rencores Por Joaqu...
- ¿Hacia dónde vuelan las aves?Por Mariano Grondona
- Merval Pereira -Negociação programática
- FERREIRA GULLAR Um operário chega ao paraíso
- DANUZA LEÃO
- ELIANE CANTANHÊDE Boa viagem, Lula!
- CLÓVIS ROSSI
- João Ubaldo Ribeiro
- DANIEL PISA
- Nada muda nem na China nem aqui
- Estadão entrevista Armínio Fraga
- No novo mundo das finanças, países têm de repartir...
- Anticapitalismo e outras esquisitices
- Justiça Social Suely Caldas
- Celso Ming Mudar para não mudar
- DORA KRAMER Um salto de qualidade
- Facetas da reestatização
- Floresta legislativa dá poucos frutos
- Um presente para Chávez
- A Catastrophe Foretold By PAUL KRUGMAN
- Merval Pereira - E as conseqüências?
- FERNANDO GABEIRA
- RUY CASTRO A voz do morro
- MELCHIADES FILHO Balé municipal
- CLÓVIS ROSSI
- DORA KRAMER Um PT diferente é possível
- Radicalização periférica
- Chega de embromar a Nação
- Celso Ming
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA entrevista: José Mariano Beltrame
- MILLÔR
- André Petry
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- VEJA Recomenda
- Radar
- Dossiê tenta intimidar senador que investiga Renan
- Zuanazzi resiste à pressão do ministro da Defesa
- Califórnia: celebridades castigadas pelo fogo
- A euforia do consumo de massa no Brasil
- As novidades do Leopard, da Apple
- O padre Júlio Lancellotti é investigado
- A cirurgia que controla o diabetes
- Cotas para deficientes: sobram vagas nas empresas
- Em defesa do gerúndio
- A plástica feita com moderação
- Quanto o país pode gastar – e ganhar – com a Copa
- O primeiro vôo comercial do gigante A380
- O Jogo Imortal, de David Shenk
- O Vaticano libera documentos sobre os Templários
- Clipping 26 de outubro
- Entrevista da Folha:Sérgio Cabral Filho
- Sérgio Cabral pisou no tomate?
- Villas-Bôas Corrêa : O tempo e a agulha perdida
- O discurso de Cabral
- Nunca mais!
- É vital o debate sobre o aborto
- Caos previsível
- 'Violência' policial
- Merval Pereira - O destino
- Dora Kramer - Poço sem fundo
- Celso Ming - Ainda mais embaixo
- Clóvis Rossi - Quem pare a violência
- O preço que se paga
- Eliane Cantanhede - Muito pior do que asneiras
- Infraero privada?
- Parou tudo
- Dora Kramer - O pulso da Privatização
- Merval Pereira - Como sempre neste país
- Eliane Cantanhede - Amigos desde criancinha
- Clipping 25 de outubro
- ISRAEL DIVIDIDA Nahum Sirotsky -
- Remember Iraq By THOMAS L. FRIEDMAN
- Clipping 24 de outubro
- Trama fracassada
- Villas-Bôas Corrêa :O governo começa amanhã
-
▼
outubro
(454)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA