Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 12, 2007

Os conselhos dos CEOs

Em Brasília, presidentes de grandes companhias
americanas e brasileiras debatem medidas para
aumentar os negócios entre os dois países


Denise Dweck

Ana Araujo
CEOs na reunião em Brasília: é preciso cortar tributos e facilitar a concessão de visto

Ministros brasileiros e americanos sentaram-se em Brasília, na quinta-feira da semana passada, para ouvir os conselhos de quem melhor entende de negócios internacionais – os presidentes de algumas das maiores empresas dos dois países. Estiveram lado a lado os principais executivos de dezenove companhias gigantes, como Alain Belda, da Alcoa, Neville Isdell, da Coca-Cola, Roger Agnelli, da Companhia Vale do Rio Doce, Maurício Botelho, da Embraer, Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, José Roberto Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, e Bill Rhodes, do Citibank. O faturamento somado dessas companhias chega perto de 700 bilhões de dólares, o equivalente ao PIB da Austrália. O resultado do encontro foi uma lista de recomendações e propostas específicas para facilitar e ampliar as exportações, os investimentos e o intercâmbio de tecnologia entre os dois países.

O Brasil é o segundo país a organizar um fórum de CEOs (sigla em inglês para designar o principal executivo de uma empresa) em parceria com o governo dos Estados Unidos. O anterior foi na Índia, no ano passado. Encontros desse tipo têm uma série de qualidades. A primeira é permitir que os entraves existentes nas relações comerciais bilaterais sejam discutidos por aqueles que enfrentam esses problemas no dia-a-dia da vida profissional. A segunda é criar uma oportunidade para que as sugestões sejam apresentadas diretamente a representantes do governo. Estavam presentes pelo Brasil os ministros Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Pelos Estados Unidos, participaram Carlos Gutierrez, secretário de Comércio, e Allan Hubbard, assessor do presidente George W. Bush para política econômica. Pelo menos um dos problemas apresentados – a concessão de vistos de entrada nos Estados Unidos – parece ter uma solução a curto prazo. "No ano passado, os indianos também reclamaram das dificuldades na concessão de visto", disse a VEJA o americano Allan Hubbard. "O Departamento de Estado conseguiu resolver esse problema para os indianos e, com certeza, fará o mesmo para os brasileiros."

Algumas das sugestões exigem soluções mais complexas e demoradas. Um exemplo é o pedido de negociações para acordos bilaterais por setor produtivo, como o existente entre Brasil e México para a indústria automotiva. "O fórum pediu igualmente a elaboração de um acordo para evitar que empresas com negócios nos dois países sofram com a dupla tributação", diz Josué Gomes da Silva, presidente da mineira Coteminas, do setor têxtil, e coordenador dos CEOs brasileiros no fórum. A julgar pela experiência anterior na Índia, a reunião de CEOs em Brasília deve representar o início de um processo de conversações. Desde o início de 2006, os executivos americanos e indianos reuniram-se quatro vezes, montaram um comitê para agilizar a Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio e criaram um fundo de investimento para obras de infra-estrutura na Índia. Cada uma dessas conversas resultou em novas propostas de medidas práticas para ampliar as exportações e facilitar a entrada de investimentos no setor financeiro e em outros serviços.

"É importante que os executivos insistam em bater nas mesmas teclas, para não deixar que os problemas sejam esquecidos. O impacto pode ser significativo, pois vem de empresas de grande porte", diz o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. A influência das empresas no processo de decisão do governo é bem assentada nos Estados Unidos. Naquele país o trabalho de lobby é regulamentado e há uma grande estrutura de centros de pesquisa que auxilia as empresas com estudos para fundamentar suas exigências. No Brasil, o encontro da semana passada pode ser o passo inicial para que muitos problemas encontrados pelos exportadores e investidores sejam identificados e resolvidos.

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