| artigo - Carlos Alberto Di Franco |
| O Estado de S. Paulo |
| 8/10/2007 |
O culto à frivolidade e a submissão à ditadura dos modismos têm ocupado espaço em alguns setores da mídia. No imenso shopping das futilidades, promovido pela força do negócio do entretenimento que tudo banaliza e transforma em espetáculo, há prateleiras para todos os gostos. Vivemos sob o domínio do inconsistente e sucumbimos à tirania do politicamente correto. O fenômeno, no entanto, não admite explicações unilaterais. Existe, freqüentemente, uma forte relação de amor e ódio, uma paradoxal cumplicidade entre a mídia, suas estrelas e a opinião pública. O décimo aniversário da morte da princesa Diana, evocado em agosto deste ano, ainda repercute na Europa. Lady Di, mítica combinação de charme e tragédia, foi um paradigma de fenômeno midiático. Reações emocionais e julgamentos precipitados prejudicaram, à época, a análise da cobertura. Os paparazzi, cortejados pelo subjornalismo, foram lançados ao fosso da execração pública. Não se trata, agora, de tentar absolver o comportamento aético desses profissionais do drama humano. Mas não é razoável reduzir todo o show midiático ao cruel pragmatismo dos representantes do jornalismo mundo-cão. A fábrica das celebridades, então e agora, depende de uma complexa linha de montagem: a síndrome de Cinderela, o sensacionalismo da imprensa e a intensa demanda social de frivolidade. Diana sucumbiu à síndrome de Cinderela. Vítima de uma situação para a qual não estava preparada, acabou se transformando num produto do show business. Embora lamentasse o assédio dos paparazzi, Lady Di, num paradoxal movimento de autodestruição da sua intimidade, procurava o flash dos tablóides. Suas atitudes não se distinguiam das de outras musas do teatro das vaidades. Ela era uma figura pública que escancarava seus próprios segredos. Basta pensar, por exemplo, nas surpreendentes revelações sobre sua vida íntima ao repórter Andrew Morton. Ela foi uma vítima de sua própria, voluntária e misteriosa exposição à mídia. Mas a fábrica das celebridades não se esgota no mágico e dramático itinerário das Cinderelas. O sensacionalismo transforma a vida num contínuo programa de auditório. A obsessão seletiva pelo underground da vida tem transformado páginas de comportamento num autêntico compêndio freudiano. Biografias não-autorizadas não têm repercutido apenas nas páginas dos tablóides. Maledicência e agressões abusivas à intimidade parecem estar imunes aos critérios de qualidade editorial. O strip-tease da intimidade, ridículo e forçado, ganha status de informação relevante. O que importa é chocar. A lembrança da trágica morte de Diana escancarou também outro ângulo da fábrica de celebridades: a crescente demanda social de futilidade. Muitos dos que choraram o triste destino da princesa de Gales foram os mesmos que se deleitaram com as suas aventuras amorosas. Rigorosamente os mesmos que compravam os jornais que depois condenaram. A indignação da opinião pública contra setores da imprensa, compreensível e lógica, não pode ocultar o seu lado hipócrita e esquizofrênico. Como disse alguém, se fizermos uma análise séria, descobriremos nesse caso, e em outros análogos, para além dos fotógrafos, dos jornais, das celebridades, um culpado maior: a sociedade contemporânea, que se compraz na frivolidade, na vulgaridade e nas aparências. É preciso, contudo, fazer uma ressalva: o mercado não pode ser um álibi para justificar a prática de verdadeiras delinqüências editoriais. Não devemos atuar à margem do mercado, mas não podemos sobrevalorizá-lo. Jornalismo desvinculado do mercado gera moralismo e chatice. Mas jornalismo refém do mercado escorrega fácil para a irresponsabilidade editorial. O culto da frivolidade indica inconsistência editorial. A passionalização da notícia, festejada num primeiro momento, acaba produzindo cicatrizes irreparáveis na credibilidade. Os jornais precisam captar os sinais de uma demanda reprimida de qualidade informativa. Meus freqüentes contatos com repórteres, editores, professores e estudantes, em seminários, reuniões e consultorias, têm sido um observatório privilegiado para mirar e pulsar o sentimento de um público qualificado. Segundo alguns, o jornal, tradicionalmente forte no tratamento da informação, tem sucumbido às regras ditadas pelo mundo do entretenimento. O esforço para conquistar novos leitores, legítimo, urgente e necessário, tem partido de uma premissa estratégica equivocada: tentar imitar o modelo eletrônico. Na verdade, é preciso travar a batalha dos conteúdos. O que vai agregar novos consumidores é uma ágil e moderna prestação de serviços, é o resgate da reportagem de qualidade, é a matéria que ultrapassa a superficialidade televisiva, é a denúncia bem fundamentada, a pauta criativa, o texto elegante e bem escrito. É necessário surpreender o leitor com matérias que rompem a monotonia do jornalismo de registro. A imprensa européia, especialmente a espanhola, tem avançado magnificamente no jornalismo de cidadania. A cobertura oficialista e declaratória tem sido substituída pelo levantamento dos problemas reais que afetam a vida das pessoas. Menos Brasília e mais Brasil real, diríamos aí. É uma fórmula que aproxima os leitores dos seus jornais. Não devemos imitar a televisão, nem ceder ao seu inigualável poder de fabricar celebridades. O nosso negócio é outro. É oferecer informação útil e qualificada para a navegação num mundo cada vez mais complexo e fragmentado. O show business é uma realidade, mas ainda há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. |
Entrevista:O Estado inteligente
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