Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 20, 2007

André Petry

Crônica da demagogia

"Falando da CPMF, ele disse: 'Chega de
mais impostos, chega dessa estrutura

tributária deformada e burocrática'.
Era
Aloizio Mercadante, em março de 1999"

Na democracia brasileira, Lula foi o mais insistente oposicionista. Foi oposição a tudo e a todos, recusou-se a se aliar a qualquer governo de 1985 em diante, até que chegou a sua hora de morar no Palácio da Alvorada. E, no entanto, apesar de sua longa experiência na planície, Lula é seguramente o político que mais ajudou a desmoralizar o papel de oposicionista na democracia brasileira.

Lula já disse que na oposição só fazia "bravatas" e, mais recentemente, informou que, entre as bravatas, se incluíam os princípios. A frase devia ser gravada em mármore: "Principismo você faz no partido quando pensa que não vai ganhar as eleições nunca". Um show de desmoralização.

Agora, durante a viagem à África, Lula manteve a campanha para aprovar a CPMF e saiu-se com a seguinte declaração à oposição demo-tucana: "Acho importante que todo mundo releia discursos de quatro ou oito anos atrás e mantenha a posição". Lula, claro, queria lembrar o que diziam ex-pefelistas e tucanos nas votações da CPMF durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

De fato, os discursos daquela época são muito divertidos. Tem tucano dizendo que "quem quer doente com saúde devolvida que vote a favor da CPMF" (by Arthur Virgílio), tucano discorrendo sobre "as inegáveis vantagens da CPMF" (by Alberto Goldman) e tucano afirmando que "a CPMF representa o modelo que mais se aproxima da forma de cobrar impostos no futuro" (by Antonio Carlos Pannunzio).

Mas Lula, querendo denunciar uma contradição dos adversários, não devia dizer que acha importante "todo mundo" reler discursos antigos sobre a CPMF. Eis por quê:

• Em julho de 1996, Paulo Paim, do PT gaúcho, subiu à tribuna da Câmara dos Deputados quando se discutia a criação da CPMF e disse:

– Que imposto daninho esse!

Uma semana depois, com a CPMF já aprovada, Paim voltou ao assunto:

– Listei 22 motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadores votou contra.

(Já se sabe para que servem as listas dos petistas....)

• Em maio de 1998, quando se debatia a prorrogação da CPMF, o deputado Arlindo Chinaglia, do PT paulista, fez um discurso em que disse o seguinte:

– Queremos alertar para o fato de que o Partido dos Trabalhadores votou contra a CPMF e não temos nenhum motivo para alterar sua opinião.

(Petista não muda de opinião. Muda de conveniência.)

• Em março de 1999, debatia-se o aumento da alíquota da CPMF de 0,20% para 0,38%. O deputado e hoje senador Aloizio Mercadante, do PT paulista, fez um desabafo na tribuna:

– Chega de mais impostos, chega dessa estrutura tributária deformada e burocrática!

Dias depois, José Genoíno anunciou o voto do PT na discussão com um discurso aplaudido ao final. Disse:

– A oposição coloca-se contrária à CPMF por razões globais, pela visão de um outro modelo econômico, diverso desse que o presidente Fernando Henrique Cardoso adota.

(Essa, pela grandeza da bravata, fica sem comentários.)

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