Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 10, 2007

Ameaça à Vale


editorial
O Estado de S. Paulo
10/10/2007

Mesmo tomando o cuidado de avisar que não pretendem colocar bombas nem arrancar os trilhos da Estrada de Ferro Carajás, que liga a unidade de produção da Companhia Vale do Rio Doce, na região, a São Luis (MA), tendo em vista paralisar o tráfego de trens da companhia - mas sem passar o recibo de terroristas, o que fizeram em tantas ocasiões (como na ocupação das instalações de controle da Usina de Tucuruí, em maio) -, os militantes do MST lançaram efetiva ameaça à empresa que, pondo as barbas de molho, entrou na Justiça com pedido de interdito proibitório para que a ferrovia (por sinal federal) fosse protegida pelas Forças Armadas.

Frustrou-se a tentativa de 30 militantes sem-terra de se sentarem nos trilhos para impedir a passagem dos trens, mas para a Vale a presença dos invasores traz insegurança à operação da ferrovia - que, além da produção da empresa, transporta diariamente 1.300 pessoas até o Porto de Itaqui, em São Luis, e traz, da capital maranhense, o combustível que abastece o Sul do Pará. A razão alegada dessa luta contra a Vale seria o fato de a antiga estatal ter sido subavaliada “e vendida a preço de banana”, quando foi privatizada há dez anos. O que é notório, porém, é que esses militantes, que se arvoram em paladinos - ou “justiceiros” - do patrimônio público, são vítimas da própria ignorância que os impede de avaliar corretamente todos os benefícios administrativos e socioeconômicos que advieram dessa privatização, afora a desinformação completa sobre a composição do controle acionário da companhia.

As ações agressivas contra a Vale tendem a se intensificar em razão dos resultados que o movimento “A Vale é Nossa” obteve no plebiscito que realizou entre os dias 1 e 9 de setembro, no qual a principal pergunta era se a Vale do Rio Doce deveria continuar sob controle do capital privado ou ser reestatizada. Embora o plebiscito tenha sido um fracasso - votaram apenas 3,7 milhões de pessoas quando os organizadores esperavam de 7 a 10 milhões -, como em toda “eleição” em regime totalitário, houve maioria de 94,5% pela reestatização. Registre-se que, apesar de o plebiscito ter sido apoiado por entidades como a CNBB, a CUT, a UNE e pelo 3º Congresso Nacional do PT, a esdrúxula idéia reestatizadora não tem obtido qualquer abrigo no governo Lula. E as razões para isso são claras - como mostra reportagem publicada pelo jornal Valor de segunda-feira.

A Vale privatizada, além dos benefícios que produziu para a economia brasileira, beneficiou, diretamente, cerca de 3,5 milhões de brasileiros que tiveram suas aposentadorias garantidas pela grande valorização das ações da Vale nas bolsas. Nos últimos cinco anos, a alta das ações preferenciais da companhia foi de 781,33%. Milhões de brasileiros são associados dos 122 fundos de pensão que possuem ações da Vale. Além disso, 352 mil trabalhadores aplicaram parte de seu fundo de garantia em ações da Vale e tiveram uma rentabilidade de 301,16%, em três anos - em vez dos 16,59% que teriam obtido se deixassem esse seu dinheiro no FGTS. Por outro lado, os detratores da privatização da Vale escondem dos militantes do MST, que usam como massa de manobra, que do capital ordinário da empresa 53% são detidos pela holding Valepar - que define a estratégia da companhia e escolhe seus principais gestores. A Valepar é controlada por três fundos de pensão - dois dos quais patrocinados por estatais, a Previ e a Petros -, pela empresa de participações do BNDES (a BNDESPar), pela Bradespar (ligada ao Bradesco) e a japonesa Mitsui. Assim, a BNDESPar e os fundos de pensão detêm 60% do capital votante da Valepar. O capital nacional tem 81,75% das ações ordinárias da holding e a União ainda possui ações “golden shares” que lhe dão certos poderes de veto.

Pode-se, pois, afirmar que a Vale não é uma estatal, mas é uma empresa pública, uma vez que grande parte do seu capital é público. Sua privatização foi um sucesso espetacular. Permitiu obter os financiamentos de que precisava para tornar-se a empresa global que é hoje - a 3ª mineradora do mundo - ao mesmo tempo que liberou o Tesouro para utilizar recursos escassos em investimentos em serviços públicos essenciais. Só fala em reestatizar a Vale quem deseja que o Brasil regrida pelo menos meio século.

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