Panorama Econômico |
O Globo |
11/7/2007 |
Na época da hiperinflação, falava-se do efeito Orloff, aquele do "eu sou você amanhã". Acontecia na Argentina e, logo depois, lá estava o Brasil vivendo o mesmo problema. Agora está se dando o oposto: seis anos depois do Brasil, a Argentina vive o fantasma do apagão de energia. Mas pode ser também um alerta para o Brasil de que baixo investimento sempre provoca escassez de energia. Lá o principal culpado é o populismo energético do presidente Kirchner. Ele, que teve o mérito de tirar a Argentina da crise, errou ao congelar tarifas, rasgar contratos e, desta forma, provocar a paralisação do investimento na Argentina. A neve da segunda-feira, que não acontecia em Buenos Aires desde 1918, serviu para agravar o clima de apagão. Mudança climática à parte, a conseqüência imediata deste inverno rigoroso tem sido um aumento de 30% no consumo habitual de gás para a calefação nas residências. Normalmente, informa a consultoria brasileira Gás Energy, o mercado de gás natural na Argentina é de 120.000.000 m³/dia. O que costuma variar muito é o uso nos lares. Enquanto no verão fica ao redor de 10.000.000 m³/dia; no inverno, pode chegar a 45.000.000 m³/dia. Mas frio - ainda que este inverno esteja bem mais rigoroso - é algo que acontece todo ano na Argentina. O que está ocorrendo agora é uma crise de escassez de energia provocada por um conjunto de fatores, entre eles, falta de planejamento e mau gerenciamento. A matriz energética argentina é bem diferente da brasileira. Enquanto dependemos 10% do gás; lá, metade da energia vem do gás. As hidrelétricas têm um percentual menor na matriz, mas a falta de chuvas agravou o quadro de escassez de oferta. Segundo estudo da Gás Energy, até 1993, o mercado argentino era dominado por duas empresas; mas sem competição. A partir das privatizações, houve um aumento da produção: de 70.000.000 m³/dia para 140.000.000 m³/dia. A crise e o governo Kirchner marcaram um novo tempo de quebra de contratos, hostilidade em relação às concessionárias e controle de preços. Foram proibidos os repasses dos aumentos de gás do mercado internacional. "Com isso, o preço do gás natural passou a oscilar entre 20% e 30% dos demais combustíveis substitutos", diz o texto. O fim da crise econômica produziu um aumento do consumo que foi incentivado ainda mais pelas tarifas congeladas. Ocorreram dois fatos que, juntos, levam sempre à crise: aumento de consumo e paralisação de investimentos. Produção e investimentos estacionaram. Em 1986, diz o CBIE, a relação reserva/produção de gás era de 43 anos; hoje está em 9 anos. Em maio, por vários dias, a potência de consumo alcançou níveis recordes, bastante próximos do limite da capacidade firme instalada. O consumo de gás veicular quase dobrou. Para tentar desestimular o consumo de gás nos automóveis e garantir o abastecimento das residências, ontem foram anunciadas baixas temporárias nos preços da gasolina. Nos últimos anos, a Argentina vinha tentando resolver o problema de escassez diminuindo as exportações de gás para Brasil e Chile e aumentando as importações da Bolívia, onde, como se sabe, os investimentos caíram fortemente diante da relação de conflito do governo Evo Morales com as empresas. A Argentina firmou um contrato com a Bolívia pelo qual a Bolívia se compromete a fornecer 27.700.000 m³/dia a partir de 2011. Mas o baixo investimento, principalmente da maior empresa no país, a Petrobras, permite prever que a Bolívia não terá todo esse gás para entregar. Com uma eleição em quatro meses, Kirchner decidiu sacrificar a indústria e incomodar o mínimo possível o consumidor doméstico. Isso produzirá queda do produto, mas pode permitir a eleição de Cristina Kirchner. A atitude é coerente. Se, há cinco anos, ele preferiu a solução populista para as tarifas públicas, não seria agora, perto da eleição, que deixaria o consumidor residencial de lado. O chefe de gabinete da Presidência, Alberto Fernandez, disse ao "La Nacion" que o governo não permitirá aumentos nas tarifas e pediu que as indústrias "esperem um pouco". Segundo um relatório do WestLB, 5.000 empresas já sofreram com cortes de fornecimento. À indústria se está aplicando um racionamento de 1.200 MW. O que se diz é que Kirchner tem poupado Buenos Aires e deixado os "apagões" para cidades em que a repercussão é menor, ou nas quais tenha mais inimigos políticos. Uma outra saída tem sido a importação de energia do Brasil (645 MW) e do Uruguai (520 MW). Mas aí cria-se novo problema. O Brasil, para exportar energia das térmicas, precisa consumir mais gás, que vem da Bolívia, que também fornece à Argentina. Ou seja, quanto mais energia fornecemos a eles, menos gás a Bolívia pode mandar para lá. Há dois anos, o governo argentino começou uma campanha para estimular a economia de energia. O incentivo do preço falou mais alto. Crise de energia significa crescimento menor, e os economistas esperam o dado da indústria de junho para ver o impacto na produção. Na inflação do atacado, já houve: ela está em 7% no acumulado do ano. Nestor Kirchner costuma tentar controlar também o índice de preços. Mas isso, sabemos, pode produzir um bom número, mas não evita que o consumidor sinta o desconforto dos preços em alta e da produção em queda. |
Entrevista:O Estado inteligente
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