Ninguém precisa escrever uma monografia para demonstrar que o desempenho deste governo petista, tendo o Sr Lula da Silva como um testa-de-ferro que não quer ou não consegue compreender a profundidade do lamaçal em que o lançaram, se reflete por inteiro na seqüência de escândalos e roubalheiras, nas manifestações sarcásticas — e até libidinosas — de ministros, na balbúrdia vista nos aeroportos, no escárnio da bandidagem que vence a guerra contra as desmoralizadas autoridades constituídas, nas 200 mortes por dia nas estradas e nos altos prejuízos da política externa.
Para nossas agruras aeronáuticas já temos a absolvição, pronunciada pelo ministro da fazenda que, numa crise de diarréia verbal, declarou ter sido aquele tumulto um mero efeito da prosperidade brasileira. Será que o Sr Guido Mantega tem idéia do tamanho da asneira que expeliu com tanta imodéstia?
Mais criativa foi a ministra do turismo, Marta Suplicy, que minimizou o problema e deu aos passageiros a lasciva sugestão de aplacarem a ansiedade no clímax dos prazeres carnais. Ao contrário do estouvado Guido que nos alvejou com um bolo fecal, Marta pelo menos entende de sexo, porquanto já demonstrou cabalmente seus talentos orgásticos num programa de televisão. Agora, dona de um ministério, pretende nos convencer de que devemos levar a vida na eterna galhofa de uma orgia interminável. É a visão dela talvez da descrição exata da realidade tal qual expressa na dialética marxista.
Enquanto isso, Dario Morelli Filho, o compadre chegado a Lula da Silva, integrante da máfia dos caça-níqueis, promete ser mais um quadrilheiro íntimo do Planalto; e entre tantos outros marginais e amigos de marginais que convivem com o presidente, destaca-se agora o irmão, Vavá da Silva, que, apesar de néscio e desarticulado, é suspeito de tráfico de influência e exploração do prestígio presidencial desde 2005; Lula da Silva, porém, insiste que o mano velho não passa de um “ingênuo”.
O cenário que envolve a alta administração é um oceano de mixórdias; mas o presidente assumiu a personalidade de homem honestíssimo, um santo cercado de malfeitores. Jamais percebeu algo de errado. Foi traído. Desta vez, contudo, não tem como pôr a culpa no neoliberalismo, no imperialismo norte-americano, na imprensa burguesa, nas elites que controlam os meios de comunicação. Esgotaram-se os clichês da grande farsa que sempre foram o partido dos trabalhadores e seu líder incapaz.
E pode vir chumbo grosso por aí... Renan Calheiros, acuado, enrolado em fazendas de lucros inconcebíveis, açougues fantasmas, cheques borrachudos e recibos fajutos, sente-se abandonado e, apesar das evidências escancaradas, insiste em se declarar idôneo e ilibado. E se ele se desesperar ante a ruína de um sonho de poder acalentado desde antes dos conluios com o guru Collor de Mello? Proclama-se credor do Planalto que lhe virou as costas. Queixa-se de todos, até mesmo de Lula da Silva. E se fizer ameaças? É capaz de criar "uma crise institucional" e agravar ainda mais a folha corrida do governo petista. E se resolver arrastar consigo outros senadores? Não hesitará em revelar segredos de alcova dos companheiros. Teve a privacidade invadida sem constrangimentos; não se julga na obrigação de guardar a confidência alheia. Sabe de coisas... Talvez por isso o Clube do Senado, de alma vendida, ande pressuroso para enterrar o assunto.
É difícil acreditar que a sociedade ainda enxergue algum tipo de decência nos labirintos da Praça dos Três Poderes. Parece que os homens de bem que ainda devem existir por lá pecam pela omissão ou talvez, simplesmente, pela incompetência para uma reação. Não há tribunos capazes de incendiar as massas. Não temos um Disraeli, um Gladstone, um Churchill. Temos Guido, Marta e Renan. Conforme a inscrição no portal do inferno de Dante, podemos deixar para trás a esperança, porquanto as próximas eleições não devem alterar muita coisa. Afinal, tudo é permitido, porque o Brasil é assim mesmo.