Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 17, 2007

Eliane Cantanhede - "Triste"




Folha de S. Paulo
17/7/2007

Coitado do Lula, não deve ter sido fácil para ele, com todo aquele ego, suportar seis vaias seguidas e ter de sair de fininho do Maracanã, sem fazer o discurso inaugural do Pan. Mas Lula é gato escaldado, está na política há décadas e sabe (tanto quanto a comunidade internacional) que vaia faz parte do jogo -e do espetáculo. Por isso, ele baixou a bola, confessando no rádio que ficou "triste".
Muito pior fizeram os que cismam em endeusar Lula e ficaram desesperados com as vaias. Mais realistas do que o rei, em vez de tentar entender, tentam desqualificar tudo e todos, até quem as comenta.
Aplaudiam quando o PT e seus movimentos orquestravam vaias contra os outros, mas não suportam quando elas são contra o petista.
As vaias no Rio não afetam os sólidos índices de popularidade de Lula (aliás, nem se falou nisso), mas são um alerta da classe média urbana. Ninguém está acima de qualquer crítica; democracias se fazem com aliados e adversários; quem diz o que quer ouve o que não quer; e toda unanimidade é burra.
Lula é presidente eleito e reeleito, seu governo tem dados positivos, dados negativos e ele mantém imensa aprovação porque, entre outras coisas, tem um forte discurso social, um marketing poderoso (lembram do "fraquinho quando convém e fortão quando precisa"?) e é alvo de uma condescendência impressionante. Para os lulistas, só a "direita racista" e a "elite reacionária" teriam a ousadia de criticar um nordestino, ex-retirante, ex-operário e ex-sindicalista.
Mas quem foi vaiado no Maracanã no dia 13/7/07 não foi aquele Lula de 30 anos atrás, foi o presidente da República -que defende Severino, Collor e Renan Calheiros, que não vê e não sabe de mensalão, dossiê e cuecão e que agrada tanto ao miserável do Bolsa Família quanto ao banqueiro do lucro recorde. Lula caiu na real. Vaia boa não é só vaia do PT contra adversário.

Arquivo do blog