Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 08, 2007

CLÓVIS ROSSI

De filas, regras e combates

FRANKFURT- Começo por onde Fernando Rodrigues terminou ontem o seu belo texto: "Palocci é o Brasil".
Se alguém teve o azar de não ter lido, trata-se da crítica ao ato de furar a fila (em Cumbica), praticado pelo ex-ministro, ao qual se somou uma "desculpa deslavada".
É dessa malandragem que foram nascendo os grandes males da pátria. Desrespeita-se uma regra comezinha (ficar na fila como qualquer mortal), no pressuposto de que o dano aos outros é mínimo, quase zero. Uma pessoa que fure a fila não vai atrasar muito o já muito atrasado embarque dos demais passageiros, certo?
Errado. Quando uma figura pública desrespeita uma "regrinha" emite o sinal de que regras, grandes ou pequenas, não foram feitas para serem respeitadas. E tome o desrespeito que se vê e se lê todos os dias em jornais e telejornais.
No limite, chega-se à frase do governador Sérgio Cabral (Rio de Janeiro): "Se o tiro foi pela frente ou pelas costas, isso é da natureza do combate (...) Barbaridade para mim é espancarem uma empregada em um ponto de ônibus".
É claro que espancar alguém em qualquer lugar é uma barbaridade.
É claro que, em combate, um tiro pode, sim, atingir alguém pela frente ou pelas costas. Mas o elementar respeito às regras pede que não se dê alvará para matar antes de que termine a apuração para saber se as vítimas no complexo do Alemão foram mortas em combate ou fuziladas após a rendição.
Convém lembrar que a deterioração da segurança pública entrou em fase aguda a partir do momento em que o regime militar deu licença aos porões repressivos para violar a lei e matar e cometer outros crimes em nome do combate a um comunismo supostamente onipresente.
Autorizar a violação da regra por um motivo escancara as portas para violá-las sempre. Deu no que se vê todos os dias.

crossi@uol.com.br

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