SÃO PAULO - Ao dar ordens à Polícia Federal para investigar se houve irregularidades nas obras de reforma da pista de Congonhas, o próprio presidente Lula reforça a sensação de que o país pisa no pântano nessa área de obras públicas -como em muitas outras. Não adiante o ministro da Justiça, Tarso Genro, dizer que a determinação não implica apontar um dedo acusador para "qualquer órgão público". Está apenas dizendo o óbvio. Nenhuma autoridade aponta o dedo para qualquer setor de seu próprio governo antes de investigar. Às vezes, nem depois.
Mas o gesto do presidente Lula só pode ter uma de duas interpretações, a saber:
1 - É zelo presidencial. Seria ótimo e desejável, se não fosse inócuo. O presidente sabe que todo acidente aéreo gera uma investigação minuciosa, que ataca em todas as frentes, inclusive no equipamento do aeroporto afetado.
Logo, dar ordens para fazer o que de todo modo seria feito ou é chover no molhado ou é apenas mostrar movimento para um público supinamente irritado com o que está acontecendo.
2 - O presidente teme que tenha sido, de novo, "traído" por seus companheiros de governo, capazes de fazer e/ou engolir algum trambique na obra da pista. Como todo mundo lembra, no episódio do mensalão, Lula se disse traído, mas recusou-se sistematicamente a dizer quem o traíra.
Entre parêntesis, é uma atitude inaceitável, porque acaba servindo para encobrir pessoas que cometeram atos indevidos, entre eles o de trair a confiança do chefe de governo. O encobrimento não produz o efeito demonstração que a denúncia pública teria e, por isso, seria capaz de evitar a sua repetição. Resumo da ópera: a leniência com "traidores", mensaleiros, "aloprados" e que tais é parte fundamental na criação do ambiente malcheiroso que o país vive.
crossi@uol.com.br
Entrevista:O Estado inteligente
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