Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 08, 2007

Celso Ming,Fôlego longo

A maioria dos críticos da política econômica, muitos deles até mesmo no Ministério Lula, dá mostras de que não está entendendo o que está acontecendo.

Afirmam todos os dias que está tudo errado no câmbio e nos juros; que essa política neoliberal serve apenas a rentistas e agiotas; que o País caminha para a desindustrialização e dependência de importações; que os investimentos estrangeiros estão sendo concentrados em setores de baixa tecnologia e de baixo emprego de mão-de-obra; e que o investment grade é papo de quem só pensa em ganhar com especulação.

Apostam em que, mais dia menos dia, a festa das commodities terá acabado e o Brasil, sem indústria e comprador para suas matérias-primas, estará na rua da amargura.

Essa visão das coisas, em parte comprada por dirigentes da indústria, baseia-se numa análise passadista que, a todo momento, espera por uma nova crise financeira e não leva em conta que estamos no início de um ciclo econômico de longo prazo.

A novidade é que China e Índia (para ficar com apenas dois emergentes asiáticos) vão incorporando ao mercado consumidor enormes massas humanas até agora excluídas. Só a China está dando emprego a 40 milhões de pessoas por ano, o que dá mais do que uma Argentina. Para isso, exporta US$ 970 bilhões por ano em produtos manufaturados e importa US$ 750 bilhões em máquinas, matérias-primas e produtos intermediários. É o que está provocando alta generalizada nas commodities e na energia.

O Brasil passou a surfar nessa onda. Vai exportando US$ 50 bilhões a mais por ano do que importa. E isso muda muita coisa. Alguns economistas dizem que esse modelo é insustentável, mas não conseguem demonstrar essa insustentabilidade. Assim, a crise sempre esperada vai sendo adiada.

O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial projetam o crescimento econômico mundial superior a 4% tanto em 2007 como em 2008. Mas essa boa fase pode durar, pelo menos, mais cinco anos.

O risco de que sobrevenha uma reviravolta política na China e na Índia, que derrube a atual estrutura da economia, existe, mas parece baixo. Também é baixo o risco de acirramento do protecionismo dos países ricos. Num primeiro momento, eles podem pretender barrar importações de mercadorias chinesas. Mas logo perceberão que nesse jogo estão corporações dos Estados Unidos e da Europa, como GMC, GE, Dupont, IBM e Siemens, cujos resultados na Ásia não podem ser dispensados.

Pode, sim, haver uma redução momentânea da expansão asiática, mas não se tratará de depressão. Será, quando muito, uma redução do crescimento, digamos, de 12% ao ano para 8% – ainda assim, com forte aumento da demanda por matérias-primas e energia.

A principal fonte de descontentamento de um setor da indústria brasileira se deve ao fato de que continua pagando juros, impostos e encargos sociais insuportáveis e, de repente, teve de concorrer com produção asiática movida a juros insignificantes, impostos baixos e poucos encargos sociais.

Até recentemente, o câmbio, sempre generoso, compensava tudo. Mas isso acabou e não vai voltar porque a distribuição do trabalho e da produção mundial está mudando.

A saída não está em mudar o câmbio, que não tem mais volta. Está em derrubar a carga tributária, a estrutura de encargos sociais e os juros. Mas isso implica reformas: reforma tributária, reforma da Previdência e reforma trabalhista.

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