Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 10, 2007

SUS A pergunta que falta- Igor Gielow



Artigo
Folha de S. Paulo
10/4/2007

De tempos em tempos, a discussão sobre a legalização do aborto ressurge. Geralmente, some logo, pois de um lado há preguiça política e, do outro, mistificações contaminam argumentos. Não nos falta histeria de bispos e feministas.
Tomara que isso mude.
Após falar ligeirezas, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) acerta ao defender o debate em termos de saúde pública, mas escorrega ao achar que o debate pode embasar um plebiscito. Primeiro, porque estamos no Brasil. Ou alguém vê TVs abertas e rádios, únicas fontes universais de informação do país, dispostas a bancar tal discussão de forma esclarecedora?
Bastaria a idéia surgir para o lobby religioso apontar a ação "contra a vida", a despeito do fato de que os cerca de 1 milhão de abortos ilegais anuais, cuja segurança decresce com a renda, seguirão ocorrendo.
Aqui, se apoiar a mudança na lei, você é "a favor do aborto".
Ora, ninguém que fez aborto o aprova como recurso corriqueiro, nem ele é visto como uma opção contraceptiva. É um extremo. É um episódio fisicamente traumático e psicologicamente arrasador.
Hoje, a mulher que se arrisca a fazer aborto, independente do motivo, é uma criminosa. Falta então a pergunta certa: "A mulher que fez um aborto deve ser presa?".
Segundo, o plebiscito é tolo. Não se trata de uma imposição à maioria, e sim a salvaguarda de um direito. Essa é uma opinião; há os que defendem direitos de células, tudo é argumentável. Uma legalização demandaria aconselhamento prévio para evitar banalizações e acompanhamento posterior para orientar e detectar eventuais reincidências.
Talvez o SUS não comporte isso, esse é outro ponto. Mas todo o debate parece improvável, ainda mais qualificando um plebiscito em si duvidoso, que acabaria como uma versão mais cara da pesquisa Datafolha que indicou contrariedade à legalização.

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