Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 05, 2007

O hangar voa, o avião fica no chão



Artigo - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
5/4/2007

Salários crescem a 9% ao ano, indústria fica nos 2,8%; volta o bafafá do dólar e explode a importação de bens duráveis

NO PAÍS EM QUE hangares voam nas ventanias e aviões ficam no chão, os salários sobem, sopram o consumo e a indústria não decola. Voando saiu apenas Júlio Gomes de Almeida, o secretário de Política Econômica do governo Lula, defensor da indústria no Ministério da Fazenda até ontem, quando foi defenestrado por criticar o real forte e o Banco Central. Voltamos ao bafafá do dólar baixo.
Se o ano tivesse terminado em fevereiro, a indústria teria crescido 2,76%, anunciou ontem o IBGE. Depois de 20 meses em tendência de desaceleração, a indústria pareceu religar as turbinas em novembro de 2006, quando crescia a 3% ao ano.
Daí, deu-se uma apagadinha.
De inquietante, sabe-se que o crescimento da importação de produtos industrializados corre a um ritmo seis vezes maior que o da indústria nacional, e acelerando. Isto é, o consumo de bens industriais importados cresce muito mais rápido que a produção nacional. Por sua vez, a exportação de bens manufaturados crescia em fevereiro a 1,7% ao ano. Em fevereiro de 2006, crescia a 7,3% anuais; em 2005, a 25%. Mal.

Importação inédita
Tal disparidade é inédita desde 2004, o período mais longo de "normalidade" econômica no Brasil do pós-Real. Aliás, a invasão estrangeira, digamos, dá-se no ritmo do real superforte e da abertura dos portos de FHC, em 1995.
A indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos) recupera-se lentamente desde janeiro do ano passado, no mercado interno. Foi também em janeiro de 2006 que chegou ao pico, no governo Lula, a velocidade de crescimento de importações de máquinas em relação à produção nacional. Enfim, embora cresça mais que o resto da indústria, o setor de bens de capital não vive nenhuma onda excepcional (vide o gráfico da relação entre o crescimento da produção de máquinas e o PIB).
A indústria de bens intermediários (que produz insumos para outras fábricas) também perde espaço para os importados com rapidez. Mas, como dizem relatórios médicos, sua situação é "estável" (quem está à beira da morte, mas parou de piorar, também é "estável", no jargão médico).
A importação de bens duráveis (carros, TVs, eletrodomésticos etc.) dispara. A importação de bens duráveis agora cresce 20 vezes mais rápido que a fabricação nacional desses produtos. O aumento da massa salarial vai para a Ásia. Tragédia? Para quem perde o emprego e a fábrica, claro que sim.
Para a economia brasileira, ainda é incerto: o período de análise é ainda muito curto, o país é ainda muito fechado etc. Porém, ressalte-se outra vez que, nesse tipo de análise, as conclusões chegam tarde: só se sabe se o paciente vai morrer quando ele morreu, ou quase.

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