Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 19, 2007

Mangabeira, que já acusou Lula de corrupto, pode ser ministro



Leonencio Nossa
O Estado de S. Paulo
19/4/2007

Após pedir afastamento do presidente, ele fez comício com o petista e é cotado para assumir nova secretaria

Meses depois de pregar que o atual governo é “o mais corrupto da história nacional”, o professor Roberto Mangabeira Unger pode virar ministro do presidente que, segundo ele já disse, ameaça a democracia com o “veneno do cinismo”. O Planalto confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá Mangabeira hoje. A idéia do presidente que “corrompeu e esvaziou” as instituições, nas palavras do professor, é criar uma secretaria com status de ministério para discutir ações de longo prazo. Lula há tempos reclama que é preciso discutir o planejamento do País até 2022, quando o Brasil completará 200 anos de independência. A nova secretaria cuidaria de órgãos como o Núcleo de Assuntos Estratégicos, um departamento já ocupado por Luiz Gushiken.Professor de direito na Universidade Harvard, Mangabeira ganhou espaço na mídia ao se apresentar como guru do ex-ministro e atual deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Em outubro do ano passado, acompanhou Lula em comícios pela reeleição em Campina Grande (PB) e Mossoró (RN). Chamou a atenção dos nordestinos que puderam conversar com ele por causa do forte sotaque americano. Ele é brasileiro, mas passou boa parte da vida nos Estados Unidos.

Antes, porém, as críticas a Lula eram ferozes. Tanto que sua presença na campanha despertou atenção dos próprios aliados do petista. Em novembro de 2005, o professor escreveu artigo pedindo o afastamento do presidente. Ele acusou o governo de politizar a Polícia Federal e as agências reguladoras, de comprar parlamentares e de tentar dobrar qualquer instituição do Estado “capaz de se contrapor a seus desmandos”.

“Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente”, afirmou. “As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento.”

Mangabeira foi além. Considerou que os cidadãos não podiam permitir que Lula presidisse as comemorações da Proclamação da República naquele ano. “Desde o primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas”, escreveu. “(Lula) comandou, com um olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro.”

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