Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 03, 2007

Eliane Cantanhede - Incompetência e leniência



Folha de S. Paulo
3/4/2007

Com a contra-ofensiva da Aeronáutica, Lula recupera o bom senso e conclui o óbvio: não dá para atropelar a democracia, a hierarquia militar e as leis para ceder a um punhado de controladores militares que podem parar o país a qualquer momento.
Na reunião do Alto Comando de sábado, como anunciou a Folha, o comandante Juniti Saito e os demais brigadeiros de quatro estrelas decidiram driblar a decisão do governo de não punir os amotinados. Se o governo não faz, o Ministério Público Militar fará.
Ontem, já havia três frentes para abrir IPMs contra os sargentos controladores: em Brasília, Curitiba e Manaus, onde a procuradora Maria de Nazaré Guimarães pediu ao Comando da Aeronáutica relatos sobre o "motim, conspiração, desrespeito a superiores e desacato", para tomar providências. O Código Penal Militar, artigo 149, prevê prisão nesses casos. Os líderes serão retirados dos consoles para trabalhos burocráticos, enquanto a punição não vem.
O Alto Comando também alertou para o efeito cascata da crise dos controladores militares sobre os civis e sobre os milhares de outros profissionais (engenheiros, técnicos de rádio...) de controle aéreo, além do risco de contaminação das outras Forças. Exército e Marinha entraram no campo de batalha.
Quebrar a hierarquia e a disciplina não é uma questão da Aeronáutica, é mexer na base das Forças Armadas. Se sargentos fazem tudo o que fizeram e ganham todas, qualquer um pode fazer o mesmo. Desde os policiais federais até os cabos do Exército, passando pelos tarefeiros da Marinha. O governo foi incompetente e leniente, perdeu para os controladores, para os comandos militares e para os usuários. Mais uma vez, Lula empurrou com a barriga contando com a sorte, como se crises se resolvessem sozinhas. Desta vez, não deu certo. O prejuízo é enorme.

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