Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 17, 2007

Clóvis Rossi - França (quase) se curva ao Brasil




Folha de S. Paulo
17/4/2007

Depois de 50 dias de confinamento por conta de uma cirurgia de quadril ("vecchiaia è bruta", já dizia a nonna), sair direto para Paris é ainda mais agradável, mas, ao mesmo tempo, chocante.
Para começar, passei na frente de todo mundo no embarque, apoiado na bengala que me colocava na condição de "passageiro com dificuldade de locomoção", os primeiros a embarcar. Engraçado e também humilhante. Quase disse aos atendentes que não sou passageiro com dificuldade de locomoção. Só estou nessa condição, espero.
Depois, você cai na primavera européia, que costumava ser mais fria, com a mesma temperatura do outono paulista, que também não costumava ser tão quente.
Sair de um Brasil em que a discussão política oscila entre inexistente e indigente para cair na campanha eleitoral para a Presidência de quarta maior economia do mundo é também interessante. Mas aqui também se dá um fenômeno que Moisés Naïm, venezuelano que edita hoje a revista "Foreign Policy", batizou adequadamente de aceleração dos tempos, especialmente os políticos.
Discute-se tudo na campanha francesa, mas os temas entram e saem da agenda com formidável velocidade. Nada parece permanente, às vezes uma semana pode ser longo prazo.
A campanha começou (haja paciência) com o bordão das tais "reformas", o que me parece muito mais uma muleta retórica de quem não sabe bem o que fazer com um país, desenvolvido ou não.
Cá, como aí, as "reformas" são essencialmente as mesmas (da previdência, da legislação trabalhista, tributária). Mas, logo, as reformas caíram da agenda para dar lugar a outros temas que logo somem também. A fase mais recente é dos xingamentos e das falsas questões. Como no Brasil. Só que eles estão com a vida ganha e podem dar-se ao luxo de andar em círculos.

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