blog Josias 06/9
Pedro Simon (PMDB-SP) subiu há pouco à tribuna do Senado. Com a eloqüência e o gestual largo que lhe são próprias, o senador soou entre indignado e preocupado. Demonstrou indignação com a má fama que recobre a política –"Estão vendendo o conceito de que vale tudo, até mesmo pôr a mão no barro, na sujeira". Exibiu preocupação com o eventual segundo mandato de Lula –"O Collor também estava no céu e desceu ao inferno".
Simon referiu-se a discurso feito ontem por Lula, em comício na cidade pernambucana de Caruaru. O presidente dissera que teme críticas de sindicalistas, mas não receia as ressalvas feitas ao seu governo por certos senadores, aos quais não atribui credibilidade. "Ele deveria temer", disse Simon, braços ao vento. "É todo-poderoso, mas não pode tudo".
Para Simon, "Lula pode até ganhar as eleições, mas se achar que pode ganhar na base da corrupção, seu futuro será trágico". O senador referiu-se ao seu próprio partido: "Já se fala que o Lula está compondo com [P]MDB, com as mesma regras que foram as de ontem. Não tenho nenhuma dúvida de que o futuro que o espera é triste".
Referindo-se ao já célebre encontro de Lula com os artistas, há cerca de duas semanas, no Rio, Simon disse que "o Brasil deve muito" à categoria. Realçou o papel que os artistas exerceram no combate à ditadura. Citou Chico Buarque e Geraldo Vandré. Mas repudiou os comentários feitos por participantes do encontro com Lula a respeito da ética.
"Quando se diz que não se pode fazer política sem por a mão no barro, na sujeita, que política vale fazer o que for necessário para obter determinados fins, está se vendendo um conceito. Parece que essa é a regra geral", disse Simon, em referência aos comentários do ator Paulo Betti. "Quero me insurgir contra isso", prosseguiu Simon.
Em seguida, o senador tratou de demarcar fronteiras: "Eu podia ser milionário. Conheço muita gente honesta, digna e decente na política. Não posso aceitar que se diga que o rumo do Brasil é o rumo da corrupção, que a falta de ética é a regra geral. Digo aos meus amigos artistas, que são homens direitos: não fizeram bem".
Simon concitou os "políticos de bem" a se insurgirem contra a perversão. "Essa é uma hora em que cada um tem que fazer a sua parte, falando livre e abertamente ao povo, temos condições de chegar lá (...). Temos que ter a compenetração do nosso papel. É melhor construir o muro do que demolir. É melhor dar a nossa colaboração. Creio nos homens de bem, confio na sociedade brasileira. Ela haverá de se levantar para dizer que o Brasil é um país digno e que o povo brasileiro é um país de bem"