Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 05, 2006

O teorema de Serfiotis


Artigo - Sérgio Costa
Folha de S. Paulo
5/9/2006

O tucano Riverton Mussi, prefeito de Macaé, no norte do Estado do Rio, declarou seu voto em Lula: "Ele abriu as portas aos municípios do interior". Traição igual promete fazer quem deveria estar coligado no apoio a Alckmin, Jorge Serfiotis (PFL), de Porto Real, no sul fluminense: "Ele [Lula] vai ganhar a eleição. Tenho que pensar no município", disse.
Pragmáticos e dependentes de outros poderes, prefeitos de norte a sul molham o dedo para testar a direção do vento a cada eleição. Como a deles é separada das grandes disputas, sentem-se liberados para cuidar de interesses paroquiais.
Lula sabe bem disso. Tanto que juntou, no último fim de semana, no Rio, 52 prefeitos em torno dele. O discurso foi direto: o Bolsa-Família atende a 422 mil no Estado, mas era para chegar a um milhão. Em vez dos R$ 294 milhões gastos em 2005, poderia ter investido uns R$ 500 milhões. Meio bilhão.
Ou seja, há dinheiro em caixa para umas bondades pelo interior. Se o programa assistencialista que atende mais de 11 milhões no país enfuna a vela da candidatura presidencial, poderia também soprar a favor dos prefeitáveis em 2008.
Sem máquina, em 2002, Lula visitava umas cinco cidades por dia. Quando José Serra, mais ligado na TV, acordou para a necessidade de dar atenção aos municípios, grande parte já havia optado pelo rival.
Ao construir um terceiro palanque no Estado pelo interior, Lula expõe o samba do afro-brasileiro doido que dita o ritmo da política geral e da fluminense em particular, expresso pelo prefeito Serfiotis em sua justificativa de voto. "Pensando no município", vai ter muita gente traindo seus -em tese- candidatos naturais a presidente e a governador. Vão defender chapas sem pé nem cabeça, que só atestam a falência dos partidos. Uma desarticulação que tenta os caudilhos.

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