O Estado de S. Paulo |
5/9/2006 |
Até agora, o candidato da oposição à Presidência da República, Geraldo Alckmin, não divulgou seu programa de política econômica. E o que foi apresentado pelo candidato Lula não passou de uma coleção de platitudes. A questão econômica está fora do debate eleitoral. Mesmo os candidatos alternativos nada ou quase nada têm a dizer. Este é um fato estranho. Nos últimos três anos e meio, todos os documentos do PT que trataram do assunto contiveram duras críticas à política econômica. Para o PT, quase tudo de importante na área está errado: política fiscal, cambial, monetária, industrial. Em abril, apresentou suas "Diretrizes para a elaboração do programa de governo do Partido dos Trabalhadores", com críticas contundentes à administração Lula e pedidos de mudanças radicais. Essas críticas estão longe de ser prerrogativa das esquerdas. Os líderes da Fiesp e organismos coligados, como Ciesp e Iedi, nisso também se parecem com os dirigentes do PT: câmbio, juros, tributação, política de emprego, política de crescimento econômico - está tudo errado. O próprio governo Lula está rachado. Cerca de um terço dos ministros está a favor da política econômica; outro terço está contra; e o terceiro terço prefere calar-se. Desde sua posse, em janeiro de 2003, o vice-presidente da República, José Alencar, ataca a política de juros e a política cambial, no que é seguido, em tom mais ameno, pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan. O mínimo que se poderia supor dessa situação é que a política econômica fosse debatida nesta campanha. Qual o quê, as proposições não avançam para além de trivialidades do tipo: "a hora é de ênfase no crescimento econômico com distribuição de renda." Nenhum candidato ousa dizer uma palavra sobre como pretende baixar a excessiva carga tributária, como conter a gastança, como botar a Previdência nos eixos. O tucano Geraldo Alckmin critica a "farra cambial" do governo Lula, mas não avançou sobre como evitará a valorização do real. Há quem diga que os candidatos escondem o que tem de ser feito para não contrariar o eleitor. Como o maior problema da economia brasileira é fiscal (diz respeito ao modo como os recursos públicos são arrecadados e gastos), as correções da programação econômica exigirão sacrifícios do contribuinte, do futuro aposentado e do assalariado. Se esse fator fosse decisivo, o debate econômico teria sido evitado também nas eleições de 2002. Mas o então candidato Lula não fugiu dos temas como está fugindo hoje. Em junho de 2002 editou a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu a fazer o superávit primário e a puxar os juros para onde tivessem de ir para atacar a inflação. Cada candidato tem seus motivos para manter seu programa na moita. Lula, por exemplo, dá a impressão de que desautorizou as propostas da enganação petista, mas não quer expor essas divergências. Alckmin, por sua vez, aparentemente não está conseguindo unificar nem as propostas nem o teor adequado de contundência de sua equipe São fracas essas explicações para a falta de debate? Se você tiver melhores, me escreva. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, setembro 05, 2006
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