Ainda há alguns acadêmicos fazendo preleção sobre como a economia está bem. Mas a maioria dos analistas parece que, finalmente, se deu conta que os americanos têm boas razões para estarem insatisfeitos com a economia. Embora o crescimento do PIB tenha sido bastante bom nos últimos anos, a maioria tem visto seu salário perder para a inflação e seus benefícios se deteriorarem.
O descompasso entre o crescimento global da economia e o crescente aperto financeiro para muitos americanos que trabalham provavelmente exercerá influência muito grande em novembro, parcialmente porque o presidente Bush parece estar fora da realidade - quanto mais ele insiste que é uma grande economia, mais zangados ficam os eleitores.
Mas a falta de coerência não começou com Bush e não acabará com ele, a menos que tenhamos uma grande mudança nas políticas.
A estagnação dos salários reais - salários ajustados pela inflação - data de mais de 30 anos. O salário real de trabalhadores sem cargo de chefia atingiu seu pico no início da década de 1970, no final do surto de crescimento pós-guerra. Desde então, os trabalhadores às vezes têm ganhado terreno e outras vezes perdido, mas nunca mais ganharam tanto por hora quanto ganhavam em 1973.
Neste ínterim, os benefícios oferecidos pelo empregador começaram a declinar na era Reagan, embora tenha havido melhoria temporária durante o surto de crescimento da era Clinton. O benefício mais essencial, o plano de saúde empresarial, vem caindo rapidamente desde 2000.
Os trabalhadores americanos comuns parecem compreender o descompasso entre o crescimento econômico e seu próprio destino melhor do que muitos analistas políticos. Considere, por exemplo, os resultados de uma nova pesquisa de opinião com trabalhadores americanos conduzida pela Pew Research Center.
O centro de pesquisa concluiu que os trabalhadores percebem uma tendência descendente de longo prazo na sua condição econômica. A maioria diz que hoje é mais difícil conquistar um nível de vida decente do que há 20 ou 30 anos e um grande número diz que os benefícios empregatícios são piores hoje.
Será que os trabalhadores estão vendo o passado por lentes cor-de-rosa? O relatório parece dizer que estão. Um capítulo apontando que os trabalhadores pesquisados em 1997 também disseram que tinha ficado mais difícil ter uma vida decente tem o seguinte título: "Como sempre, as pessoas dizem que as coisas eram melhores nos velhos e bons tempos".
Mas, como já vimos, os salários reais vêm decaindo desde a década de 1970, portanto faz sentido que os trabalhadores venham dizendo que está mais difícil ganhar a vida hoje do que há uma geração.
Por outro lado, a preocupação dos trabalhadores com a piora nos benefícios é nova. Em 1997, um grande número de trabalhadores disse que os benefício empregatícios eram melhores do que antes. Isso fez sentido porque, em 1997, a crise da assistência médica, que havia sido uma importante questão política alguns anos antes, parece ter diminuído.
Mas agora a crise da saúde está de volta, tanto por causa dos custos da assistência médica como porque estamos vivendo numa economia cada vez mais wal-martizada, isto é, na qual até os grandes empregadores altamente rentáveis oferecem o mínimo de benefícios.
O último relatório do Censo sobre rendimentos, pobreza e seguro-saúde, divulgado esta semana, mostra que em 2005, em quatro anos de expansão da economia, a porcentagem de americanos com seguro privado de qualquer tipo atingiu seu nível mais baixo desde 1987. E os americanos sentem que os benefícios são piores do que costumavam ser.
Por que os trabalhadores estão indo tão mal numa nação rica que continua ficando mais rica? Essa é uma questão a ser discutida, embora eu acredite que há um grande componente político. O que vemos hoje é resultado de 25 anos de políticas que têm reduzido o poder de barganha dos trabalhadores.
Porém, a questão importante é se finalmente vamos tentar fazer alguma coisa sobre esta falta de correlação. Pode ser difícil elevar os salários, mas só saberemos se tentarmos. E, quanto ao declínio nos benefícios - bem, quase todo o país avançado consegue oferecer um seguro-saúde gastando muito menos em assistência médica do que gastamos.
Noutras palavras, o grande descompasso dá o melhor argumento que poderíemos querer para um populismo inteligente e ousado. Tudo o que precisamos são alguns políticos populistas inteligentes e ousados.