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Autoridades do governo federal deram explicações capengas para o acanhado desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano. Disseram que teve a ver com as paralisações da produção para os jogos da Copa do Mundo e a greve dos auditores da Receita Federal.
Um certa dose de racionalidade lhes faria bem. Foram apenas cinco os jogos do Brasil na Copa do Mundo e, ainda assim, apenas três foram em dias úteis e um aconteceu no trimestre seguinte (1º de julho). E a greve da Receita Federal foi apenas uma entre tantas que normalmente ocorrem no País.
O PIB do segundo trimestre foi só 0,5% maior em relação ao do primeiro trimestre. Com base nesse padrão de análise, ninguém se lembrou de dizer que o PIB do primeiro trimestre (que cresceu 1,3% em relação ao anterior) teve mais motivos para se mediocrizar do que o do segundo. Janeiro e fevereiro, por exemplo, foram meses de verão e de férias no País; fevereiro teve carnaval e apenas 19 dias úteis.
Apesar desse resultado geral medíocre, há um lado bom nos números do PIB dos primeiros dois trimestres que precisa de melhor análise. É o avanço do consumo das famílias, único segmento da demanda que cresceu nos quatro últimos trimestres, equivalente a 4,06% em comparação com os quatro trimestres anteriores.
É um ritmo razoável. Está longe dos padrões asiáticos, mas dentro do esperado para o PIB nacional deste ano. Este crescimento mais expressivo do consumo tem algumas explicações, apontadas ontem neste espaço: redução da inflação que defendeu o poder aquisitivo da população; queda do dólar, que valorizou o salário real; aumento do salário mínimo; expansão do crédito, especialmente o consignado (desconto das prestações do salário ou da aposentadoria); e expansão do programa Bolsa-Família.
Uma das questões mais intrigantes é que esse aumento do consumo não está sendo acompanhado pelo aumento da produção industrial, que foi de apenas 1,4% nos mesmos quatro meses. Em parte, esse mau desempenho pode ser explicado pela maior absorção de estoques preexistentes e também pelo aumento das importações. De todo modo, esse atraso da produção em relação ao consumo leva à velha discussão do ovo e da galinha. O que acontece primeiro: o aumento do investimento (para garantir a produção) ou do consumo (para estimular investimento)?
Há alguns meses, o Banco Central parecia preocupado em impedir que o avanço do consumo ultrapassasse o crescimento potencial. É a situação em que o ritmo das compras da população seria maior do que a capacidade da produção em satisfazê-lo. Se isso acontecesse, seria inevitável a inflação de demanda: os preços subiriam por efeito de procura maior do que a oferta. Nesse caso, seria preciso puxar os juros para restringir o consumo, de maneira a empatá-lo com a capacidade de oferta da economia.
O que se tem agora não é o desencontro entre ritmo de consumo e capacidade de produção. Essa capacidade existe e está relativamente longe do esgotamento. A novidade é a de que o povão está consumindo mais sem que a indústria o venha satisfazendo.
Os economistas estão mais ou menos de acordo num ponto: onde há aumento do consumo, o investimento vai atrás. O empresário reage prontamente ao tilintar da máquina registradora. Sempre que aumentam as vendas, investe mais para vender mais. Se chegar atrasado, o concorrente come-lhe fatia de faturamento.
Mas o ritmo do investimento também não é satisfatório. Nos quatro últimos trimestres aumentou só 2,2%. Com base na alta mais forte do consumo, o que se pode esperar agora é que, para acompanhar a procura, tanto a produção quanto o investimento reajam para tirar o atraso.
Algumas condições para isso existem: as bases da economia estão mais sólidas, a inflação está convergindo para a meta, a dívida pública está sob controle e os juros estão mais baixos. É verdade que a trajetória do câmbio não ajuda, mas este é um novo dado da realidade, com a qual não se pode brigar. Também é verdade que o setor público caminha para tomar 40% da renda do brasileiro, o que atropela o consumo e achata a produção, e essa situação precisa ser revertida.