Favas contadas? É a economia que determina a eleição no Brasil desde 1989. Essa é a convicção do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Quem leu as estatísticas e as más notícias da semana passada — desemprego em alta, PIB fraco, investimento em queda e aumento da carga tributária — deve achar que isso não faz sentido. Mas os pobres brasileiros têm outra sensação, diferente das estatísticas.
Os pobres foram para Lula da mesma forma que, por duas vezes, foram para Fernando Henrique e, um dia, votaram em Collor. Decidiram as quatro eleições, com um olho na economia.
— Desta vez, o que é determinante é inflação baixa; crédito consignado; aumento do salário mínimo; Bolsa Família; tarifas com pouco aumento; emprego, não importa se informal ou formal, e, principalmente, comida e cimento baratos — afirma Montenegro.
O curioso é que o determinante — o baixo preço da comida — veio para Lula por caminhos transversos.
Os juros altos demais derrubaram o câmbio e o câmbio baixo derrubou o preço dos alimentos. A queda dos preços aumenta a renda dos mais pobres, mas, ao mesmo tempo, descapitaliza o produtor e alimenta a crise agrícola. No ano que vem, a ressaca virá através da redução da área plantada e da queda da produção. Não foram só os juros que derrubaram o dólar. Ele caiu também pelo vigoroso resultado da balança comercial, que foi atingido por mudanças econômicas ao longo das últimas duas décadas.
Lula se opôs à maioria dessas mudanças como: abertura da economia, fim das políticas protecionistas, queda da inflação com o real e privatização. Tudo aumentou a competitividade da economia brasileira, que, assim, preparou-se para aumentar as vendas externas quando o mundo começou a comprar mais.
— O PIB cresceu só 0,5%.
Isso é ruim para os empresários, mas o pobre não quer nem saber disso. Ele nem sabe o que é PIB. O importante é a sensação que ele tem de que sua vida está melhor — diz Montenegro.
De fato. Medidas de estímulo ao consumo, como crédito consignado, aumento do salário mínimo e Bolsa Família, melhoram o humor do brasileiro. No dado do PIB da semana passada, por exemplo, o que mais caiu foi o investimento. Mas isso quem sente é o empresário, que vê suas encomendas caírem, seus clientes sumirem.
O que mais subiu foi o consumo das famílias, seguido do consumo do governo.
Ou seja, as famílias estão comprando, o governo está gastando, mas os empresários não investem.
Perigo.
Montenegro tem defendido a tese de que Lula mudou de eleitor. Ele era votado por intelectuais, jornalistas, artistas, classe média alta, professores, funcionários públicos, formadores de opinião. Foi assim até 1998, mas, em 2002, ele recebeu também o voto dos pobres e da classe média baixa. Depois do mensalão, Lula perdeu grande parte do seu eleitorado tradicional, mas se consolidou no eleitorado mais pobre.
— Os mesmos que votaram em Collor, Fernando Henrique e que passaram a votar nele — calcula Montenegro.
O presidente do Ibope diz que, em 1989, quem votou em Collor estava com medo do que Lula faria na economia; em 1994, o voto foi para Fernando Henrique, que representava o Plano Real e, assim, tirou o favoritismo que Lula tinha no começo da campanha; em 1998, o voto foi, de novo, para FH, porque o primeiro governo foi muito bom.
Na eleição seguinte, foi para Lula, pois o segundo governo foi muito ruim. E agora? — Agora vai para Lula.
Ele ganhou muito mais apoio entre os pobres, o que mais que compensou a perda dos votos que tinha na elite. É uma eleição que divide os pobres e os ricos, mas sem conflito. Os pobres estão com Lula e, no Nordeste, onde eles são tão numerosos, Lula está dando uma surra nos adversários — comenta.
Para Montenegro, não é que esse eleitorado não se preocupe com corrupção, é que ele não vê diferença entre os políticos: — Para eles, os políticos são todos parecidos; vão para a política para se dar bem, roubar, empregar os parentes.
O eleitor não encontra um diferencial, não há um paladino que encarne um outro comportamento moral.
Ele pensa assim: se os políticos são todos iguais, vou ficar com esse mesmo porque minha vida está melhor.
Além disso, a atuação da Polícia Federal confunde esse eleitor, que fica com a impressão que tudo isso aparece porque Lula está combatendo a corrupção.
No entanto, para o presidente do Ibope, o determinante é a economia: — Há muito tempo, não há um momento econômico tão bom; nunca se chegou a um ponto tão baixo na política.
A eleição está fria, sem emoções. E isso por vários motivos: — Eleição está virando rotina, e isso é bom; as novas regras acabaram com showmícios, outdoors; quem sempre animava as eleições era o PT, que agora está envergonhado; há falta de dinheiro porque os empresários estão contribuindo menos. Isso sem falar que é uma eleição com favorito absoluto no nível federal e também em alguns estados, onde estão na frente Serra, Aécio, Paulo Souto, Paulo Hartung, Roseana.
Montenegro acha que hoje há 75% de chance de o presidente Lula ganhar a eleição no primeiro turno e 25% de que a eleição vá para segundo turno. Ele acredita também que o PT sofrerá o impacto do escândalo. O partido está na frente em três estados apenas, perdeu puxadores de votos. O espaço para uma mudança é pequeno. Há apenas 9% de indecisos, e um percentual de 7% a 8% de brancos e nulos. Hoje, mesmo se todos os indecisos se decidissem por Geraldo Alckmin, a soma dos três candidatos, Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque, seria menor que os votos em Lula.
E faltam quatro semanas.
O Globo
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