Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 03, 2006

Merval Pereira Correlação de forças

O GLOBO
Correlação de forças  A Mosaico Economia Política, do economista Alexandre Marinis, cruzou uma série de dados de uma pesquisa sobre corrupção política, realizada pelo Ibope entre 12 e 16 de janeiro de 2006, com as intenções de voto para presidente apuradas pelo mesmo instituto entre 15 e 17 de agosto último.

Chegou à conclusão de que as intenções de voto válido no presidente Lula no primeiro turno da eleição são significativamente maiores entre os grupos de eleitores que têm uma imagem menos desfavorável dos políticos. O estudo da Mosaico não afirma isso, mas, como veremos mais adiante, a imagem dos políticos é melhor entre os eleitores menos críticos ou informados, que formariam a base de sustentação da votação de Lula.

Segundo Marinis, a elevada correlação entre a imagem dos políticos e as atuais intenções de voto sugere que o presidente Lula poderia perder votos se a oposição ampliasse as críticas aos políticos no horário eleitoral gratuito. Se o contingente de eleitores com uma imagem mais desfavorável dos políticos aumentasse cerca de seis pontos percentuais, o estudo indica que o número de eleitores dispostos a votar em branco ou a anular o voto tenderia a aumentar apenas um ponto percentual, mas as intenções de voto válido em candidatos da oposição aumentariam aproximadamente sete pontos, de 43% para pouco mais de 50%, levando a eleição a ser decidida no segundo turno.

O estudo da Mosaico indica que grupos de eleitores que dependem mais forte e diretamente dos benefícios proporcionados por políticas públicas tendem a associar a execução dessas políticas aos políticos locais, o que resulta em uma visão menos desfavorável da classe.

Já grupos de eleitores menos dependentes de políticas públicas compartilhariam uma visão mais desfavorável tanto dos políticos locais como da classe política como um todo.

Para o economista Alexandre Marinis, a estreita relação entre a imagem dos políticos e as intenções de voto para presidente também sugere que eventuais ações para desacreditar ainda mais a classe política, por parte do governo ou do próprio Lula — que andou criticando severamente a classe para defender a realização de uma reforma através de uma Constituinte —, poderiam acabar prejudicando o apoio à sua reeleição.

Entre os grupos de eleitores com uma imagem menos desfavorável dos políticos, destacamse os eleitores que estudaram até a 4asérie, os residentes do Nordeste, os moradores do interior e de municípios com até 20 mil habitantes e os eleitores com renda familiar mensal de até um salário mínimo. É exatamente nesses segmentos que Lula alcança seus maiores percentuais de intenção de voto.

No Nordeste, por exemplo, um terço dos entrevistados entende que os políticos são trabalhadores, e Lula tem 75% das intenções de voto válido para presidente na simulação de primeiro turno. Já no Sul e no Sudeste, o percentual de entrevistados que vêem os políticos como trabalhadores diminui para apenas 18% e as intenções de voto válido em Lula despencam, respectivamente, para 45% e 49%.

Dos entrevistados que estudaram até a 4asérie, 20% entendem que os políticos são honestos, e o presidente Lula alcança 68% das intenções de voto válido nesse segmento do eleitorado. Já entre os eleitores com ensino superior, apenas 6% acreditam que os políticos são honestos e as intenções de voto válido em Lula caem para 38%.

Entre os eleitores com renda familiar de até um salário mínimo por mês, 21% avaliam que os políticos são solidários, e o presidente Lula tem 71% das intenções de voto válido.

Em contrapartida, entre os eleitores de classe média (renda familiar de 5 a dez salários mínimos por mês), apenas 10% caracterizam os políticos como solidários, e as intenções de voto válido em Lula diminuem para 46%.

Nos municípios com até 20 mil habitantes, 16% dos entrevistados entendem que os políticos agem pensando no benefício da sociedade, e Lula tem 68% das intenções de voto válido. Já nos municípios com mais de cem mil habitantes, apenas 8% dos entrevistados entendem que os políticos agem pensando no benefício da sociedade, e as intenções de voto válido em Lula caem para 50%.

A imagem dos políticos é ruim de maneira geral, mas, mesmo quando os índices de visão crítica são altos, a escolha de candidatos de oposição acontece entre os eleitores mais críticos. Os candidatos a presidente pelos partidos de oposição têm maior aceitação entre os eleitores com ensino superior, renda familiar mensal acima de dez salários mínimos e residentes da capital ou periferia das grandes cidades.

Entre os eleitores com renda familiar acima de dez salários mínimos mensais, 96% entendem que os políticos agem pensando somente em seu próprio benefício, e os candidatos de oposição têm 71% das intenções de voto válido na simulação do primeiro turno da eleição presidencial.

Já entre os que ganham até um salário mínimo por mês, o percentual de entrevistados que entendem que os políticos agem pensando somente em seu próprio benefício diminui para 81%, e as intenções de voto válido em candidatos da oposição despencam para 29%.

Os políticos brasileiros são desonestos para 92% dos entrevistados com ensino superior, e os candidatos da oposição têm 62% das intenções de voto válido nesse segmento do eleitorado. Em contrapartida, os políticos são considerados desonestos por 72% dos entrevistados que estudaram até a 4asérie e, nesse segmento, as intenções de voto na oposição caem para 32%.

Entre moradores de cidades com mais de cem mil habitantes, 79% consideram os políticos preguiçosos e 50% pretendem votar na oposição.

Já entre os moradores das cidades com até 20 mil habitantes, 64% consideram os políticos preguiçosos e 32% pretendem votar na oposição.

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