Militando com o inimigo (por Lucia Hippolito)
Depois que Napoleão foi derrotado em 1815, os Bourbon voltaram ao poder. Sobre eles disse o marquês de Talleyrand: “Não aprenderam nada e não esqueceram nada.”
O mesmo se pode dizer do Partido dos Trabalhadores, a propósito das inacreditáveis lambanças que tem feito desde que assumiu o poder, em 2003.
Parece que o PT não aprendeu nada com a crise do mensalão, que resultou na total desmoralização do partido, anteriormente porta-estandarte da ética na política.
A crise resultou igualmente no indiciamento da cúpula do PT pelo procurador-geral da República – fato inédito na história dos partidos políticos brasileiros – como membros de uma “sofisticada organização criminosa” que pretendia tomar de assalto o Estado brasileiro e lá se perpetuar.
Alguns petistas de alto coturno foram até mesmo indiciados como chefe da quadrilha do mensalão. A vida é dura, como diz um ex-famoso ex-ministro.
Como afirmou Talleyrand, o PT também não esqueceu nada a respeito de seus métodos e práticas. E alguns de seus caciques continuam a cruzar o país a bordo de malas de dinheiro vivo, peças íntimas que escondem dólares e reais. Para comprar, corromper, forjar documentos, dossiês e denúncias.
A quem aproveita o crime, como se diz nos romances policiais? Quem seria o principal beneficiário desta lambança?
Certamente, não é Lula, que já está encomendando o terno da posse. Coisa que deixa mortos de inveja alguns petistas, crentes que eram proprietários de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao presidente Lula não interessa ver um membro de sua “copa-e-cozinha”, como se dizia antigamente, um assessor tão íntimo que estava lotado no Planalto no gabinete da primeira-dama Marisa Letícia, um assessor tão íntimo que cuidava da segurança dos próprios filhos do presidente...
Não interessa a Lula ver seu assessor comprando dossiês para prejudicar tucanos em São Paulo. Logo em São Paulo!
Pelo visto, alguém no PT considerou que, comprando um dossiê contra Serra, beneficiaria a candidatura de Mercadante. Provocando a realização de um segundo turno, quem sabe?!
Não sei, mas tem alguém no PT que odeia Mercadante!
A tal ponto, que quer prejudicá-lo a qualquer custo. Desde o cinqüentenário do senador em 2004, comemorado com aquela inacreditável quantidade de outdoors espalhados por todo o estado de São Paulo – e custeados Deus-sabe-por-quem.
Só assim se pode interpretar este incrível episódio, a 11 dias das eleições, mais uma lambança petista.
Serra sai como vítima da armação do PT. Já Mercadante sai como alguém que, se não deu a ordem, pelo menos se beneficiaria... E por não ter firmeza dentro do partido para denunciar os malfeitores.
E os malfeitores, quase todo mundo sabe de quem se trata.
Reeleito presidente, Lula não gostaria de se indispor com o novo governador de São Paulo, logo no início de seu mandato. Portanto, não daria a Mercadante o ministério com que o senador tanto sonha.
Paranóia? Pode ser. Fantasia? Talvez. Mas nunca na história deste país se imaginou que pudessem existir mensaleiros, sanguessugas, quebra de sigilo bancário de um simples caseiro, caixa 2, dólares em roupas íntimas, presidente da República reunindo em seu palanque uma coleção de indivíduos indiciados por uma imensa variedade de crimes, presidente da República cercado de malfeitores.
Alguém no PT está a fim da sua cabeça, senador Mercadante.
Por isso, é melhor botar as barbas de molho.
Ah, uma figa de Guiné ou um bom galho de arruda também ajudam.