Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 19, 2006

Luiz Garcia - Prezado PSDB:

Na sua linguagem técnica meio complicada, cientistas políticos têm definido a carta aberta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aos seus companheiros do PSDB como “pau puro”. Parece qualificação apropriada.

O pessoal tem discutido se a paulada generalizada é para o bem ou para o mal. A primeira hipótese parece mais apropriada para leitores isentos. Ou seja, todos os não-destinatários, verdadeiros ou presumidos, das variadas cacetadas.

O documento mostra todos os sinais de um gesto político, enfático mas frio, de calculado impacto e óbvios endereços. E tão inteligente quanto a decisão de divulgá-lo na véspera de uma viagem aos Estados Unidos.

Com isso, Fernando Henrique ficou à vontade para responder ou não a reações de companheiros de partido. Se ficasse para um bate-boca geral, perderia o controle sobre o fato político: viajando, o impacto tem sido aquele que ele esperava, nem menos nem mais. Inclusive porque obviamente a carta não tinha, nem precisava ter, a intenção de produzir efeitos imediatos.

Criticar o comportamento de muitos companheiros de caminhada, a esta altura da campanha eleitoral, não parece manifestação de desespero, e, sim, sinal de que o ex-presidente acha que adianta pouco sonhar com uma derrota de Lula.

Não fosse assim, certamente não admitiria por escrito que, “neste momento”, o eleitorado não acompanhará o PSDB. De qualquer forma, os temas de campanha que ele enumera, assim como os pecados e malfeitos que atribui ao PT, servem para qualquer eleição. Esta ou a próxima.

Como o puxão de orelhas no PSDB veio menos de um mês antes da votação, pode-se apostar mais em 2010 como principal preocupação de Fernando Henrique. Preocupação que ele evidentemente precisa demonstrar desde agora — antes que governadores e parlamentares da oposição, sabe-se lá, comprometam-se com uma convivência não apenas pacífica mas também passiva com o governo federal a partir de 2007.

Ele se queixa da falta de firmeza de seu partido no que chama de “denúncia política” dos escândalos do PT. Parece ter razão. Mais: é bem possível que o erro maior da oposição tenha sido permitir ao eleitor acreditar, em face do aluvião de escândalos, que todos os políticos são corruptos mesmo — e desprezar a honestidade como fator da escolha de seus candidatos.

A indignação de Fernando Henrique não parece ter elementos emocionais. Tem mais o jeito de um bem medido primeiro passo para garantir à oposição a retomada do poder daqui a quatro anos — e ao PSDB o comando desse processo.

Para se mobilizar em tempo de dar esse passo, o partido precisa abrir os olhos agora. A carta aberta é um jarro de água fria na cara de caciques e de militantes. Pode magoar almas mais sensíveis, mas também fazer o pessoal pular da cama mais cedo e começar a trabalhar melhor. Por exemplo, reagindo coletivamente, de forma organizada, mas com boa dose de santa indignação, ao complô de quinta categoria que tenta implicar Serra e Alckmin no escândalo dos sanguessugas.

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