Editorial |
O Estado de S. Paulo |
21/9/2006 |
Quanto mais se multiplicam as evidências de que o aparato petista de poder - o partido, o Planalto e a administração aparelhada - está comprometido até a alma com a tentativa de desestabilizar a candidatura de José Serra ao governo paulista, com a divulgação de um “dossiê” comprado que o vincularia à máfia dos sanguessugas, tanto mais os hierarcas petistas, incluindo o presidente Lula, se aferram a uma linha de defesa à primeira vista convincente. Com a reeleição quase assegurada no primeiro turno, argumentam, o comando da campanha e os condutores da máquina palaciana não tomariam uma iniciativa de incerto custo-benefício para o recandidato que, a esta altura, só quer saber de águas mansas até 1º de outubro. Daí o refrão: “A quem interessa tudo isso? Ao PT e ao presidente é que não.” Além do mais, argumentam, seria um contra-senso disparar uma baixaria dessas contra um adversário que dificilmente deixará de ser o próximo governador de São Paulo e para quem os canais de comunicação do Planalto estavam desimpedidos. Em suma, por que pôr em perigo a eleição ao alcance de Lula, por causa da eleição perdida por Aloizio Mercadante? Na versão petista, a resposta soa singela: foi “uma estupidez inacreditável” de um punhado de tontos, à revelia dos operadores políticos de primeiro escalão e, mais ainda, do presidente. E este fecha o círculo sacando da sempre oportuna teoria da conspiração: se a nós a crise não convém, só pode convir aos interessados em “melar o processo eleitoral”. Mas a realidade chã é que a toda hora aumenta o rol dos quadrilheiros do petismo, permitindo que se trace uma linha que avança das sombras para o centro visível do sistema. Começa com um filiado mato-grossense, especializado em arrecadação de fundos, Valdebran Padilha, e com o ex-policial Gedimar Passos, funcionário do orwelliano “dispositivo de tratamento de informações” da campanha. Depois emerge dos bastidores o versátil Freud Godoy, guarda-costas (há 17 anos) e parceiro de peladas do presidente. Em seguida, já na primeira liga, surge o fundador do PT e diretor licenciado do banco estatal catarinense, Jorge Lorenzetti, cuja fama de churrasqueiro escondia até então do público outras competências e um currículo estelar, ao menos pelos padrões do partido. Ao seu lado, mais um velho companheiro de Lula, o ex-sindicalista Oswaldo Bargas, segundo homem do então ministro da Previdência Ricardo Berzoini, atual presidente da legenda. Por uma entrada lateral, pisa no palco outro apparatchik, o diretor licenciado do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso. Ele importa porque viajou a Cuiabá para convencer os mafiosos Darci e Luiz Antonio Vedoin a falar mal de Serra e do seu sucessor na Saúde, Barjas Negri, à IstoÉ. Antes da revelação de que Bargas e Lorenzetti tentaram emplacar as denúncias na revista Época, se acreditava no oposto - que partira dos Vedoins a oferta pressurosamente aceita pelo PT. Veloso foi também quem recolheu a maioria das peças do pífio “dossiê” contra os tucanos. A citação desses nomes faz cair a máscara da farsa de que a operação foi coisa de petistas periféricos e inacreditavelmente estúpidos. Mas o que levaria os verdadeiros e escolados arquitetos da torpeza a cometer tamanha barbeiragem? É de Esopo a fábula do escorpião que ferra o sapo que o leva às costas na travessia de um rio. Ele sabia que com isso ambos se afogariam, mas fez o que fez porque é de sua natureza. A trajetória do PT, desde a sua incepção no movimento sindical, mostra que é típico de seus dirigentes e associados recorrer a quaisquer meios para destruir aqueles a quem marcaram, mesmo ao risco de serem atingidos, eles próprios - o que tende a acontecer quando não se tem senso de limites éticos, ou quando a transgressão sem freios, embora reconhecida como tal, é legitimada em nome de uma causa. Leonel Brizola enxergou isso quando disse que Lula seria capaz de “pisar no pescoço da mãe” para alcançar o que quer. Assim também a sua turma, com o seu emaranhado de vínculos, afinidades, parcerias e ganâncias que possibilitaram o aparelhamento orgânico do Estado nacional. Por isso chega a ser bizantino discutir se Lula sabe dos seus delitos antes ou enquanto são cometidos: ele sabe do que a sua gente é capaz, porque dela não se distingue. Nem no modus operandi nem nos fins. Que sina: o líder mais popular da história nacional usa de sua fantástica popularidade para fazer do seu governo o jazigo da ética. |
Entrevista:O Estado inteligente
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