A exortação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que a oposição lance "fogo no palheiro" a fim de enfrentar o favoritismo eleitoral do presidente Luiz Inácio da Silva vai cumprindo o seu destino; muito embora por enquanto apenas como fogo de palha.
Não houve adesão dos próceres tucanos ao chamamento. Nem mesmo o candidato, Geraldo Alckmin, associou-se ao plano do metafórico incêndio. No máximo, imprimiu um tom mais incisivo à exaltação de suas qualidades de médico, administrador de 19 novos hospitais em São Paulo e moço bom de Pindamonhangaba, deixando à voz de um locutor, sujeito oculto no horário eleitoral, as referências aos escândalos do grupo do opositor.
Repete com ênfase o que já não espanta - e, portanto, não mobiliza - ninguém.
O presidente do partido, senador Tasso Jereissati, em tese o encarregado de reunir a tropa, nem deve ter ouvido o brado de FH, tão longe anda, tão alheio está do centro da campanha presidencial, fazendo política paroquial, ocupado em eleger o candidato oficial de Lula no Ceará.
José Serra ainda reforça um pouco o embate, mas não em nome da disputa nacional e sim para se credenciar desde já como o principal opositor de Lula nos próximos quatro anos, para construir nesse período sua candidatura à Presidência da República em 2010.
Aécio Neves, para que não se diga que não dá a mínima, de vez em quando pronuncia algumas frases de desagrado em relação ao (suposto) adversário. As "vozes fortes" do Senado estão cuidando de suas vidas: Antero Paes de Barros às voltas com a CPI dos Sanguessugas e Arthur Virgílio segurando a lanterna da disputa pelo governo do Amazonas, com 3% das intenções de voto.
Enquanto isso, as cenas das CPIs do Mensalão, dos Correios e dos Bingos continuam arquivadas, talvez pela prudência de evitar, no contra-ataque, o constrangimento de assistir à reprise da defesa do uso do caixa 2 na campanha do senador Eduardo Azeredo.
São infrações de natureza e gravidade diversas? Totalmente, mas o entendimento da população já está contaminado pelo truque petista de tomar a parte pelo todo.
O erro de cálculo do cerrar fileiras em torno de Azeredo, à época presidente do partido, exibe agora as conseqüências na forma de intimidação.
O PFL, é bem verdade, vai à luta, clama por indignação. Mas, convenhamos, além de fazer isso atacando o parceiro de chapa, os porta-vozes não primam pelo bom crédito junto à opinião pública.
Some-se à acomodação oposicionista a própria atitude do ente acima citado, o respeitável público. O senador Jefferson Peres, em seu desabafo de desencanto ao anunciar o abandono da vida política, o fez primeiro de maneira desanimadora, como que a dizer que o bom combate é inútil.
Na réplica a si mesmo, porém, acrescentou um dado importante e pôs o dedo numa ferida exposta: "Decência é o que falta a muitos políticos brasileiros e também a muitos eleitores que votam neles."
Não é só, mas é disso também que se trata.
Senhor da razão
A propósito do apoio de Fernando Collor à reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva, Paulo Moreira Leite, em seu blog, lembra o dístico difundido pelo então presidente: "O tempo é o senhor da razão", estampava uma das camisetas com as quais costumava desfilar.
De fato, o tempo passou e aquele que derrotou Lula em sua primeira tentativa de se eleger presidente, e depois foi derrubado pela cruzada ética em boa medida incentivada (com louvor) pelo PT e interpretada como sinal de vigor institucional e aperfeiçoamento da democracia representativa no tocante à conduta de integrantes do poder público, tenta voltar à política aproveitando-se da popularidade de um de seus mais intransigentes opositores.
É um apoio oportunista, mas também simbólico.
Entre tantas extravagâncias em cartaz, essa é mais uma. Um foi impedido por causa de denúncias de corrupção; o outro, mesmo rodeado por uma situação bem mais grave - contra o governo Collor não pesou a denúncia de dar abrigo a uma "organização criminosa", a despeito do empenho do procurador-geral da época, Aristides Junqueira - não só não foi atingido como pode sair-se até vitorioso.
À primeira vista, faltou a Collor o que sobra Lula: respaldo político e apoio popular.
Chance de ouro
O deputado Fernando Gabeira ainda não recebeu a interpelação judicial do PSB para confirmar no Supremo Tribunal Federal a acusação de que o partido aparelhou o Ministério da Ciência e Tecnologia e isso abriu as portas para a corrupção por meio do uso das emendas parlamentares.
Assim que receber, Gabeira não só repetirá como fará um histórico de todos os casos de aparelhamento facilitador da corrupção no atual governo. A começar pelo Instituto do Câncer no Rio de Janeiro e vários outros.
O deputado considera a ação do PSB uma oportunidade única, e imperdível, para refrescar memórias.