O Estado de S. Paulo |
19/9/2006 |
Amanhã, haverá reunião do Federal Reserve Open Market Commitee (Fomc), o Copom do banco central americano. Vai definir para onde vão os juros básicos nos Estados Unidos, que desde o final de junho estão nos 5,25% ao ano. A decisão, que já desconfiamos qual será, terá mais impacto sobre a economia brasileira do que parece à primeira vista. Para entender o que está em jogo, é bom começar lá de trás. A série de aperto monetário (alta dos juros) teve início em junho de 2004, quando o Fomc elevou os juros básicos de 1,0% para 1,25% ao ano. O objetivo foi controlar a renitente tendência à inflação causada pelo excesso de consumo nos Estados Unidos. O principal sintoma disso era a bolha imobiliária, ou seja, a forte valorização dos imóveis residenciais baseada na grande procura de empréstimos hipotecários: o interessado levantava financiamento para a compra de imóvel, esse imóvel valorizava tanto que, além de permitir a quitação da hipoteca anterior, servia de garantia para novo financiamento hipotecário que servia para a compra de imóvel ou, simplesmente, para o consumo. Logo em seguida, o aperto teve de ser reforçado porque a alta do petróleo puxou ainda mais a inflação americana. Para efeito da definição dos juros, a inflação americana não é medida pelo avanço dos preços ao consumidor, mas pelo avanço do chamado núcleo, que é a inflação expurgada das oscilações dos preços dos alimentos e da energia, que não sofrem influência dos juros. Quando se diz que a puxada dos preços do petróleo aumentou a inflação americana, o que se avalia não é a estocada direta dos preços dos combustíveis no custo de vida, mas no resto do mercado, como efeito dessa alta. Logo que os juros básicos americanos chegaram aos 5,25% ao ano, Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), preparou o mercado para a necessidade de uma "pausa" no aperto, que era para esperar pelos efeitos a caminho. A reunião do dia 8 de agosto confirmou essa "pausa": os juros ficaram onde estavam. A reunião de amanhã provavelmente vai manter os juros no mesmo patamar e pode acenar para que, lá na frente, os agentes econômicos contem com a descida do morro. Dá para prever esse desfecho em conseqüência de duas novidades. A primeira é a de que o consumo americano está sendo contido. O crescimento econômico deste ano não deverá ultrapassar os 3,2% e isso significa que o consumo americano perdeu capacidade de criar inflação de demanda. A segunda novidade é o recuo das cotações do petróleo de 19,6%, entre o pico, no dia 14 de julho, e a cotação de ontem, que fechou a US$ 63,80 por barril de 159 litros. Com esse tombo, os efeitos da alta do petróleo sobre a inflação tendem a enfraquecer. Mas há outras mudanças a levar em conta. A mais importante é a de que o estouro da bolha imobiliária americana, tido como grande ameaça à economia mundial, é hoje uma possibilidade remota. O mercado vai-se ajustando espontaneamente. A segunda é a de que também é cada vez mais improvável a temida aterrissagem desastrosa (hard landing) da economia americana. Ainda não se vê ajuste satisfatório para os dois rombos (o externo e o do orçamento), mas apostas na brutal desvalorização do dólar ou na depressão econômica estão perdendo força. A principal conseqüência para a economia brasileira é a de que as boas condições externas deverão perdurar. É freqüente ouvir que o presidente Lula teve sorte porque contou com ambiente externo favorecido por alta liquidez nos mercados (sobra de dólares), mas que o desastre externo é iminente. Não há nenhuma tela de radar que aponte esse desastre e, em vez de secura monetária, os sinais sugerem o contrário. Se o Fed der a entender que mais à frente iniciará a derrubada dos juros é porque mais recursos do que os disponíveis agora sobrarão nos mercados. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, setembro 19, 2006
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