Editorial |
O Estado de S. Paulo |
19/9/2006 |
Tendo sangrado o erário em pelo menos R$ 110 milhões vendendo ambulâncias superfaturadas a centenas de prefeituras, a família Vedoin, com os bens bloqueados pela Justiça, aplicou um formidável conto-do-vigário no partido do mensalão, que só serviu para deixar a nu a desenvoltura com que os companheiros do presidente Lula se esbaldam na lama do "submundo do crime", como disse o candidato Geraldo Alckmin. Pela módica soma de R$ 1,750 milhão - módica perto dos R$ 20 milhões que queriam originalmente tomar do PT -, os vigaristas fariam chegar documentos cabeludos a dirigentes petistas, por interpostos cúmplices, e usariam a imprensa para fazer revelações que comprometeriam com a máfia dos sanguessugas o ex-ministro José Serra, franco favorito na disputa pelo governo paulista, o seu sucessor na Saúde, Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba, e até mesmo Alckmin. Puro blefe. O material do alardeado "dossiê" contra os tucanos vale nada. Usadas para dar a entender que eles tinham parte com a fraude, as imagens em que aparecem em entregas de ambulâncias, ao lado de futuros denunciados pela maracutaia, são de uma ridicularia atroz: resumem-se a instantâneos das servidões da política, que não permitem ao administrador público selecionar as companhias em eventos que demandam a sua presença. Já o mesmo não se pode dizer das cenas que mostram o presidente dividindo palanque, em Belém, com tipos notórios da estatura de Jader ("Sudam") Barbalho, Ademir ("Docas do Pará") Andrade e Paulo ("Mensalão") Rocha. Afinal, Lula escolheu tê-los como aliados. Mas nem por isso se o acusará de corrupto. Ou de ter ciência da baixaria que considerou "abominável", só porque, numa foto de 2002, caminha ao lado do segurança e funcionário palaciano Freud Godoy, acusado de ser o operador da torpeza. Ele se demitiu ontem. A entrevista dos Vedoins à revista IstoÉ completa a vigarice. Nela, o executivo da máfia, Luiz Antonio Vedoin, afirma o que negou enfaticamente à CPI dos Sanguessugas, no começo de agosto. No depoimento, apesar do fogo cerrado de parlamentares petistas, negou ter testemunhado ou participado de qualquer ilícito na liberação de recursos para as compras de ambulâncias quando o ministro da Saúde era José Serra. "Não era eu que fazia o governo liberar, liberava-se normal", recordou. "Com o José Serra, nem (contribuição) legal, nem ilegal, não foi passado nenhum valor para ele." Ao semanário, preferiu falar que o pagamento de propina pelas liberações "era nítido a todos". O entrevistador não o cobrou pela contradição. Na mesma sexta-feira em que a revista saiu, com um dia de antecipação, a capa bombástica onde se lê "Os Vedoin acusam Serra/ "Quando Serra era ministro, foi o melhor período para nós"" estava no horário de propaganda de Orestes Quércia - que decerto conhece a inside story da operação. É em meio a esse lodaçal que se aproxima do fim a mais oca das campanhas eleitorais. Um petista de carteirinha, Valdebran Carlos da Silva Padilha, e um advogado e ex-agente da Polícia Federal, Gedimar Pereira Passos, foram presos enquanto esperavam em um hotel o "dossiê" que lhes seria entregue pelo tio de Luiz Antonio, Paulo Roberto, não tivesse ele sido detido pela PF em Cuiabá, ao embarcar para São Paulo. Gedimar examinaria a autenticidade do material; estando tudo certo, Valdebran faria o pagamento. Não está claro por que os federais impediram a sua viagem e a dos Vedoins, perdendo com isso a oportunidade de apanhá-los todos em flagrante. Não está claro, tampouco, por que o órgão policial, cujo titular responde diretamente ao ministro da Justiça, desta vez não chamou a imprensa para fotografar o dinheiro e os pagadores, mas exibiu as peças do "dossiê". O certo é que um crime eleitoral foi cometido a mando de alguém mais importante na hierarquia petista do que o mato-grossense Valdebran, com a autorização ou o conhecimento sabe-se lá de quem, e com dinheiro vivo (dólares e reais) cuja origem precisa ser conhecida não menos rapidamente do que a identidade do(s) criminoso(s). Quaisquer que sejam as conseqüências políticas, é imperioso que a responsabilidade pelo delito - ou pelo "erro", no jargão do PT - não fique circunscrita a um ou outro solitário companheiro supostamente agindo por conta própria. E isso exige que o conto-do-vigário seja investigado em todas as suas ramificações, com o engajamento do Ministério Público e da Justiça Eleitoral. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, setembro 19, 2006
O PT chafurda na lama
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