O GLOBO
Imaginem que as agências internacionais nos enviassem o seguinte conjunto de informações: um funcionário do comitê de campanha do presidente Bush e um membro do Partido Republicano do Arkansas foram presos em um hotel de Nova York com um milhão de dólares em dinheiro vivo, tentando comprar um dossiê com denúncias contra a senadora Hillary Clinton e o candidato local a governador pelo Partido Democrata. E que, em seus primeiros depoimentos, os detidos disseram estar a serviço da Executiva Nacional do partido do presidente Bush, cumprindo ordens de assessores próximos do próprio presidente.
Qual notícia iria para as manchetes? Assim fica fácil, não é mesmo? A informação sobre o conteúdo do dossiê só apareceria no que os jornalistas chamam de “pé da matéria”, lá no fim, se sobrar espaço. O importante e o interessante, hard news, estariam na prisão, na negociação, no envolvimento dos funcionários próximos ao presidente e a seu partido.
A comparação direta é com Watergate.
Quem se lembra do conteúdo do material que os homens de Nixon foram roubar na sede do Partido Democrata? Tudo isso para comentar a posição dos líderes petistas e do pessoal próximo a Lula, que estão reclamando da imprensa que não compra dossiês, nem troca notícia por verba publicitária.
Para eles, o episódio envolve duas notícias — o conteúdo do dossiê contra José Serra e Geraldo Alckmin e o, digamos, processo de negociação e venda. Ambas, dizem, deveriam ter o mesmo peso jornalístico.
Estão equivocados.
Há notícias que se impõem pela evidência imediata e pela simplicidade.
Dois sujeitos apanhados com dinheiro ilícito, para atividade ilícita e que dizem estar a serviço do PT. O que mais precisa para a manchete? Ainda faltam aspectos essenciais — especialmente a origem do dinheiro — mas o que já se conhece basta para compor um escândalo tão intenso que, como disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio de Mello, pode levar à impugnação do mandato que Lula venha a obter na eleição.
Para alcançar hierarquia perto disso, o dossiê contra os tucanos precisaria trazer um cheque dos Vedoin na conta de Alckmin e de Serra ou de funcionários tão próximos deles quanto Jorge Lorenzetti ou Freud Godoy são de Lula.
E não tem nada parecido com isso.
A respeito de Alckmin, só umas fotos com um monte de gente numa inauguração.
Sobre Serra, a palavra dos Vedoin, que já valia pouco, e uns depósitos na conta de uma empresa que o denunciante diz ser ligada a um ex-funcionário e correligionário do tucano. É pouco.
Tanto é pouco que providenciaram a entrevista na “IstoÉ”, para que os Vedoin dissessem que tinham vida boa quando Serra era ministro da Saúde. Mas quanto vale isso na hierarquia das notícias? Tanto quanto dizer que Mercadante comandou liberação de emendas, sendo que algumas foram ambulâncias. Nada.
Claro que todas as histórias têm que ser apuradas, mas, convenhamos, perdem longe dos petistas presos, denunciados e demitidos, tudo ali na cozinha do presidente Lula.
A imprensa séria sempre faz essas escolhas.
Não importa se estamos em período eleitoral. Os jornalistas continuam tendo a obrigação de selecionar as notícias mais importantes e de maior interesse para o público. E fazem isso com base em princípios e numa visão de país e de mundo, que estão explícitos nos editoriais e no próprio noticiário.
Já quando um veículo está a serviço de um partido ou de um líder, e se depara com noticiário desfavorável a seu guru, sempre vai procurar um contrapeso no outro lado.
Imprensa séria e independente não precisa disso. Escolhe a manchete, destaca as notícias e corre o risco por essas decisões. O risco tem a ver com o bem mais precioso de um veículo, sua reputação.
Além disso, trata-se de um risco explícito, que se corre todos os dias de modo escancarado. As escolhas também ficam evidentes nas publicações e emissões diárias. Geram polêmicas, descontentamento de parte do público, aplauso de outra — e isso é do jogo. Veículos sérios, como os que se produzem aqui, crescem nesses episódios.
E vão afundando aqueles que trocam notícia por dinheiro. Mais cedo ou mais tarde, o público sempre percebe.
Circula entre políticos a tese de que é essencial saber como funciona a imprensa brasileira. Há veículos, se diz, que querem notícias, outros que querem dinheiro. Confundilos é um grande erro.
Entrevista:O Estado inteligente
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