Não foi surpresa. Contrariando os discursos altissonantes da campanha eleitoral, a economia despenca para um debilitado crescimento de 0,5% no segundo trimestre e os investimentos externos diretos quase desaparecem da tela dos institutos de pesquisa internacional. A economia não cresce porque nem o governo, que gasta mas não investe, nem as grandes empresas transnacionais estão dispostos a correr riscos quando todas as regras e promessas feitas quando da criação das agências reguladoras, são simplesmente rompidas.
Não investe, não produz emprego, não cresce.
Cada ministro diz uma coisa, e há 35 ministros a falar. Um recorde na história mundial das listas dos ministros e ministráveis, sem comando nenhum, a ponto de o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, ter perdido a calma com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e dizer em público que não adianta gritar(o Costa). Quem manda no Ministério do Desenvolvimento é ele. É isso que dá nomear leigos. E haja leigos nas hostes ministeriais...
Não vamos ficar analisando as entrelinhas do desastre do PIB, mas procurar entender por que as empresas transnacionais, os grande blocos que carregam a economia mundial, simplesmente voltaram as costas para o Brasil.
CAIU 15% E PODE CAIR MAIS
Até julho, os investimentos estrangeiros diretos (IED) caíram 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Parece difícil chegar, neste ano, à previsão de US$ 18 bilhões do BC. Estamos perdendo a disputa cada vez mais acirrada com outros países emergentes e não se vê chance de recuperação neste ano. Após um período de participação crescente no IED mundial, entre 1993 e 1998, quando o Brasil representava 4,5%, não conseguimos essa fatia, apesar de o saldo ter crescido até 2000. Mesmo neste ano, em que os investimentos externos líquidos atingiram seu ápice, as inversões externas no Brasil significaram somente 2,1% do IED mundial. Em 2005, o IED do Brasil representou apenas 1,7% do total mundial.
PERDEMOS POR CULPA NOSSA
Por quê? Afinal, o que aconteceu, aqui e lá fora?
A coluna ouviu o professor de economia da Unicamp Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi): “Contribuíram para essa perda de participação, de um lado, a expansão da China, a partir das diretrizes adotadas pelo governo em fins dos anos 70 e início dos 80 no sentido de atrair empreendimentos estrangeiros para zonas preestabelecidas da faixa costeira, bem como a atração exercida pelas economias da Europa central e oriental. Não foi só o dinamismo chinês, mas também de outras economias asiáticas, como Cingapura e Hong Kong. O Brasil e os países latino-americanos e caribenhos perderam espaço nos influxos de IED para as nações em desenvolvimento.”
SÓ NOS RESTARAM 5,2%...
Edgard Pereira lembra que, em 2005, a China abocanhou 27,2% desses recursos para países em desenvolvimento. Cingapura, Hong Kong e Coréia do Sul responderam por 19,3%. “Considerando o conjunto das regiões em desenvolvimento, o Brasil representou 5,2% do IED líquido, menos, por exemplo, do que o México, 6,1%. A América Latina e o Caribe ao todo significaram 26% dos investimentos diretos externos, isto é, somente 6,7% acima do que abocanharam Cingapura, Hong Kong e República da Coréia e menos do que representou a China sozinha.”
E O BRASIL ERA A CHINA DE HOJE!
O professor da Unicamp revela números poucos conhecidos, que mostram o quanto recuamos: “E lembrar que, em 1977, o Brasil respondeu por 27% dos ingressos líquidos para as economias em desenvolvimento. Éramos a China de hoje!”
De acordo com índices elaborados pela Unctad, embora tenha tido uma queda no indicador do poder de atração de investimentos, o Brasil ainda seria no período um país mais atrativo ao investimento estrangeiro quando comparado com índices de outros países em desenvolvimento, como Argentina e México, embora aquém do Chile. Dentro do quarteto de nações conhecido como Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, o indicador brasileiro supera o indiano e o russo, mas não o chinês.
Vários são os componentes do índice de potencial do IED brasileiro que ficaram aquém de seus correspondentes nas economias abaixo. Nossa taxa média de crescimento do PIB nos dez anos encerrados em 2003 foi muito baixa em comparação a outros países de destino. Exceto novamente pela Rússia, as exportações em porcentagem do PIB foram as menores, número que melhorará nos próximos levantamentos da Unctad, dado o desempenho das vendas externas brasileiras em 2004 e 2005.
Em resumo, há muito trabalho a ser feito para que o País amplie seu potencial de atração de investimentos produtivos. A expansão da nossa economia em 2004 e em 2005, quando as exportações tiveram papel importante, já ajudou na melhora da percepção mais recente sobre a capacidade de atração de investimentos do Brasil.
Mas a qualquer sinal de recuo, como estamos vendo hoje no Brasil, o crescimento e a abertura maiores dos nossos competidores refletem-se negativa e imediatamente nas perspectivas de investimentos futuros - e quando digo futuro, já é 2007. É o que a coluna vem desde sempre insistindo: não investe, não cresce; não cresce, não investe.
De fato, o influxo de IED atualmente, passado o período das grandes privatizações, responsáveis por grande fatia do investimento estrangeiro no final da década passada e início da atual, dependerá fundamentalmente da taxa de crescimento da economia brasileira.
SOLUÇÕES?
Por favor, meu caro leitor, não ria deste pobre colunista. As soluções estão todos os dias aí na palavra dos economistas, dos institutos, das universidades, dos empresários - aqueles que produzem e não ficam só falando. Discuti-las é cansar o leitor, que já deve estar irritado, falar nisso é voltar ao óbvio ululante que todos - até os estudantes do início do segundo grau sabem.
E haja Bolsa-Família para enganar a fome....
At@attglobal.net