Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 17, 2006

Alberto Tamer Confiar na Bolívia, por quê?

ESTADO


Não sei por que o presidente ficou 'contrariado', 'irritado' com a decisão da Bolívia de confiscar bens da Petrobrás e assumir o controle das suas refinarias. Está 'surpreso'. Mas surpreso por quê? Desabafou, em reunião com empresários na casa do ministro Furlan: 'O que é que vocês querem que eu faça? Invada a Bolívia?' Não, presidente. Só não a trate como um amigo e um parceiro confiável.

O presidente boliviano, Evo Morales, que estava em Cuba visitando o seu líder e orientador político (foi ele que disse isso, não eu), simplesmente congelou, mas não 'anulou' a medida. Isto é, não se intimidou nem teria respeitado suposta - vejam, suposta - promessa de não mexer no assunto até as eleições. E lá foi o nosso novo fanfarrão a dar uma de bravo com o Lula que o recebeu amavelmente enquanto eles nos chutavam. Disse até que precisávamos ajudar a Bolívia, um país pobre (pero muy macho...).

O caso do gás boliviano é seríssimo para a economia brasileira, pois basicamente dependemos dele para as indústrias e usinas térmicas. A empresa de consultoria Gás Energy, em seminário no Rio, apresentou estudo mostrando que o cenário elétrico para o Brasil é sombrio. Em entrevista ao jornalista do Estado Nicola Pamplona, o seu sócio-diretor Marco Tavares afirmou que já está faltando gás natural para geração térmica. A tendência é que a situação se agrave até 2009, quando o Brasil começará a importar gás natural líquido (GNL), disse ele. A Bolívia, acrescentou, tem menos gás do que se comprometeu a fornecer aos seus clientes: 41 milhões de metros cúbicos por dia; hoje só consegue entregar 34 milhões. E isso, mesmo sem as atrapalhadas que o senhor Morales está fazendo, sem dúvida inspirado em Fidel Castro e no 'generalíssimo' (na verdade é simples coronel demagogo e com tendências fascistas) Hugo Chávez.

ELE NÃO PODE PROMETER NADA

E o presidente Lula acreditou no coitadinho do amigo boliviano que vive um inferno astral em seu próprio governo. Lula não pode confiar em nada que Morales venha a prometer simplesmente porque, mesmo que queira, ele não sabe se poderá cumprir. Está ali, balançando...

E a indústria e a economia brasileira não podem continuar dependendo de um governo obscuro, contraditório e instável para suprir sua demanda de gás. Mesmo que concordemos com aumento dos preços, mesmo que ajudemos esse perplexo personagem, mesmo que financiemos o que prometemos financiar, enfim, mesmo que façamos tudo o que pudermos, não irá melhorar o cenário político boliviano nem dar a mínima garantia de que podemos contar com o seu gás.

SEM ENERGIA, NÃO CRESCE

Mas não é só isso. O quadro energético brasileiro é ainda mais grave porque os investidores potenciais estão se afastando diante das intervenções do governo na agência que, ao ser criada, dava garantias de independência, de que as regras não seriam mudadas de uma hora para outra. Construir uma usina hidrelétrica custa bilhões de dólares, leva, no mínimo, seis anos para operar, entre o projeto ser aprovado pelos 35 ministérios, a começar pelo do Meio Ambiente, para o qual cortar uma árvore impede qualquer nova obra. São investimentos de US$ 4 bilhões, ou mais, cujo retorno é lento, depende de estabilidade nas regras dos preços da energia vendida, entre outros fatores.

Não exagero nem um pouco ao afirmar que só não estamos diante de um racionamento a curto prazo porque a economia está crescendo pouco, a demanda não aumentou muito e temos aí as térmicas para socorrer como puderem, mas a um preço da energia muito mais caro.

O Brasil possui o maior potencial hidrelétrico do mundo e a politicagem e outras baboseiras burocráticas estão dificultando e até impedindo a construção de usinas cujo 'combustível' é a... água! Há riscos de períodos de seca, sim, mas as dimensões do Brasil reduzem-nos drasticamente. Se houver uma boa interligação de sistemas unindo Norte, Nordeste, Centro e Sul do País, esses riscos passam a ser menores. E aí estão, para qualquer demanda suplementar, as térmicas a gás ou a óleo, as duas usinas nucleares, aí está a terceira parada há 30 anos, não por falta de financiamento externo, que foi abundante, mas recursos locais, cruzeiros, cruzados, reais e sei lá eu quantas mais moedas já criamos.

Se a economia brasileira crescer no próximo ano entre 5% e 6%, como sonha o ministro Furlan em plena campanha eleitoral pela reeleição do presidente, o sistema elétrico brasileiro entrará em colapso. (A propósito, Furlan deveria continuar falando do que entende, comércio exterior, e não do que pouco conhece, economia.)

ENERGIA NÃO SE ESTOCA...

Seguramente haverá racionamento! Energia elétrica é algo muito delicado, não se estoca em grandes quantidades. Tem de ser gerada e consumida. Itaipu, que afogou a turisticamente a bela Sete Quedas, salvou várias vezes o Brasil, mas já está próxima do seu potencial máximo. Não podemos continuar contando apenas com ela. Os imensos potencias da Amazônia ou do centro, que poderiam nos proporcionar uma matriz energética com maior participação de energia gerada pela água dos rios, estão bloqueados porque formariam lagos que inundariam os 5 milhões de quilômetros quadrados de toda a região amazônica. Deviam agir contra os madeireiros, não contra a construção de usinas! Não sou contra os ambientalistas, muito ao contrário, os louvo, mas condeno os exageros infantis que o poder lhes deu.

Os ambientalistas fanáticos, os amantes da natureza, se esquecem de uma grande verdade: a maior poluição que existe é a pobreza! Impedir uma obra que vá causar alguma alteração nada dramática no meio ambiente, mas irá criar empregos, é um crime contra os pobres que vivem de subsistência ou da esmola do salário-família.

TEMOS TUDO

Temos a energia infindável de baixo custo nos rios, o petróleo e o gás que agora estamos descobrindo, temos urânio, temos carvão combustível de baixa qualidade, sim, mas está lá nas usinas afogadas de água em Criciúma, que visitei, temos até a energia das marés no Maranhão que nos permite construir usinas usando apenas as variações das marés. Mas corremos um grave risco de racionamento se ousarmos o que todos anseiam, principalmente os pobres , crescer 6% ao ano. Sem previsão - atentem, 'previsão' - de energia abundante, não há crescimento.

Cá entre nós, só entre você e eu, leitor, não é patético?

Arquivo do blog