Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 03, 2006

Vermelhos, ardentes e lacrimejantes

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A explosão das infecções oculares
está ligada à falta de limpeza e ao
uso inadequado das lentes de contato


Paula Neiva


Laureen Middley/Getty Images


Desde que o uso das lentes de contato começou a se popularizar, na década de 70, houve uma explosão nos casos de infecções oculares. Calcula-se que, nesse período, a quantidade de contaminações por microrganismos como fungos, bactérias e protozoários tenha quintuplicado no mundo. Há cerca de dois meses, um surto de infecção causado pelo fungo Fusarium, nos Estados Unidos, deixou os oftalmologistas ainda mais alarmados. Os casos foram diagnosticados em pacientes que estavam utilizando o ReNu com MoistureLoc, um líquido de limpeza de lentes produzido pela Bausch & Lomb. A empresa foi obrigada a suspender a venda do produto, inclusive no mercado brasileiro. Suspeita-se que uma das substâncias contidas no produto, em vez de matar o fungo Fusarium, proporciona um meio propício para seu desenvolvimento. Uma pesquisa realizada recentemente por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que o problema tende a agravar-se. Em amostras retiradas de caixinhas de lentes usadas, os pesquisadores encontraram micróbios como o Enterococcus faecalis, cujo habitat mais comum é o intestino humano. Um nojo.

As infecções causadas por esses micróbios são no mínimo incômodas, por resultar em coceiras, vermelhidão, lacrimação e ardência. Em casos extremos, elas levam à formação de úlceras na córnea e à cegueira. Na raiz do problema estão o uso inadequado e a falta de higiene. "Muitos usuários guardam a caixinha de lentes no banheiro, e alguns esquecem que é imprescindível lavar as mãos antes de manuseá-las", diz o oftalmologista Mauro Campos, um dos coordenadores do estudo da Unifesp. Há também quem insista em ficar mais de doze horas com as lentes ou até dormir com elas – o que é desaconselhado pelos especialistas. "Pessoas que dormem com as lentes têm até quinze vezes mais probabilidade de desenvolver infecções de córnea do que quem as tira toda noite", afirma o médico Carlos Eduardo Arieta, professor de oftalmologia da Universidade Estadual de Campinas. Os grandes inconvenientes de dormir com a lente de contato são a redução da oxigenação e da lubrificação da córnea. Forma-se, assim, um cenário propício para a proliferação de germes, como Staphylococcus aureus, um dos mais comuns.

Um dos fatores que contribuem para a falta de cuidado é a facilidade com que é possível comprar um par de lentes de contato, sobretudo as descartáveis, que dispensam receita médica e podem ser encontradas em qualquer ótica. No mercado desde a década de 90, as lentes descartáveis abocanharam uma parcela considerável de brasileiros que necessitam de correção visual. O problema é que raramente os vendedores têm conhecimento ou paciência suficientes para transmitir ao usuário a importância do ritual de limpeza e de armazenamento das lentes de contato. "Pessoas que as adquirem sem orientação adequada estão mais vulneráveis às infecções", diz a oftalmologista Saly Moreira, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria (Soblec).

No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas usam lentes de contato. Há dois tipos: as gelatinosas e as rígidas. As gelatinosas, mais maleáveis e consideradas mais confortáveis pela maioria, predominam. De cada dez usuários, nove as utilizam. A assepsia, tanto de uma quanto da outra, deve ser rigorosa. Inclui a utilização de soluções multiuso apropriadas e a limpeza periódica da caixinha (veja quadro abaixo). São cuidados simples que podem evitar problemas sérios no futuro. Isso se o líquido limpante não estiver contaminado. Que mundo...

 

 

ESTATINAS TAMBÉM PROTEGEM A VISÃO


J. Miranda
ESTATINAS: suas propriedades antioxidantes talvez sejam a causa da proteção às células do cristalino


Um estudo divulgado recentemente pela revista científica da Associação Médica Americana adicionou um novo item à já extensa lista de benefícios decorrentes do uso das estatinas. Criadas para regular o colesterol alto, elas já se mostraram eficazes para combater os mais diversos males – de diabetes tipo 2 a angina, de Alzheimer a esclerose múltipla. Agora, um trabalho coordenado por pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, mostra que as estatinas podem ajudar na prevenção da catarata. Uma das principais causas de cegueira no Brasil, a doença se caracteriza pela perda de transparência do cristalino, lente ocular responsável por dar foco e nitidez às imagens. O distúrbio afeta sobretudo os mais velhos. Calcula-se que 15% dos brasileiros com 50 anos ou mais tenham catarata. Acima de 80 anos, esse porcentual chega a 60%.

Os pesquisadores americanos acompanharam cerca de 1 300 pessoas ao longo de sete anos. Ao comparar os dados relativos aos pacientes que não usaram estatinas com os daqueles que usaram, descobriu-se que a ocorrência de catarata foi 60% mais freqüente entre os que não tomavam o remédio. "Isso não significa, porém, que as pessoas devam tomar estatinas para prevenir a doença", diz o oftalmologista Homero Gusmão, presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intra-Oculares. "Ainda faltam dados para que isso se torne uma recomendação médica." Se isso um dia vier a ocorrer, as estatinas serão os primeiros medicamentos preventivos contra esse problema ocular. Os especialistas ainda não conseguem explicar a proteção à visão proporcionada pelo remédio. "Esse efeito parece estar relacionado às propriedades antioxidantes do remédio, que preservariam as células do cristalino dos danos inerentes ao envelhecimento", afirma o cardiologista Otávio Coelho, professor da Universidade Estadual de Campinas.


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