Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 03, 2006

VEJAAndré Petry A estupidez racial

"Quando se cai no pântano de ficar criando
divisões raciais e étnicas, institui-se um
Estado capaz apenas de fazer politicazinhas
que prevêem a 'inclusão' de uma 'minoria'
aqui, outra ali"

O deputado Paulo Paim, parlamentar negro do PT gaúcho, acha que quem
é contra a criação de cotas raciais nas universidades pertence à
"elite". Além de defender as cotas raciais, Paulo Paim é autor da
proposta de instituição do Estatuto da Igualdade Racial, uma idéia
tão estapafúrdia que chega a criar uma classificação oficial de raças
– algo mais ou menos inspirado nos grandes momentos do nazismo. Na
semana passada, mais de 100 brasileiros, entre intelectuais,
acadêmicos, artistas e ativistas do movimento negro, divulgaram um
manifesto pedindo ao Congresso Nacional que rejeite o projeto que
cria as cotas raciais nas universidades e, também, o tal Estatuto da
Igualdade Racial. Paulo Paim não gostou. Seu diagnóstico foi o
seguinte: "Esse é um manifesto da elite, pois dar espaço aos negros
não interessa". Pobre Paim.

Dar espaço aos negros, ao contrário do que a paranóia do deputado
sugere, interessa a todos os brasileiros. O que não interessa aos
brasileiros – brancos, negros, índios – é a estupidez racial. O
projeto das cotas raciais e o tal estatuto racial, a pretexto de
combater as imensas desigualdades sociais no país, não passam de uma
calamidade. Nem se perca tempo dizendo que, ao privilegiarem essa ou
aquela "raça", os projetos ferem o ditame constitucional segundo o
qual todos são iguais perante a lei. E nem se perca tempo dizendo que
isso é uma agressão frontal ao princípio republicano da igualdade.

É até pior: esses projetos são o ovo da serpente.

Eles forçam os brasileiros a criar uma identidade racial, numa
negação acintosa à originalidade de nossa miscigenação – dado
fundador de nossa identidade. Eles criam um conceito legal de raça.
Se aprovados, o Brasil passará a ter "raças oficiais". Com essa
asneira, estarão criadas condições ideais para gerar um clima de
confrontação racial no país.

É óbvio que o Brasil precisa reverter a desvantagem de descendentes
de negros, que saíram da escravidão, e dos índios, que foram
dizimados e aculturados. Quanto a isso, não há dúvida. Também não há
dúvida de que o país precisa reverter o descalabro em que vivem os
brancos analfabetos e miseráveis. Isso significa que a desigualdade
brasileira não é uma decorrência da tonalidade de pele, não é contra
negros – é contra pobres. A entrada de serviço nos prédios de
apartamentos não é para negros, é para pobres. As favelas e a
mendicância não escolhem os negros. Escolhem os pobres.

Sim, a maioria dos pobres são negros e pardos – e a melhor forma de
combater essa desigualdade é criando oportunidades iguais, abrindo
escolas, dando boa educação, oferecendo bons hospitais, gerando
empregos. O Estado tem a missão de oferecer oportunidades iguais e
bons serviços públicos – bons e universais. Quando se naufraga no
pântano de ficar criando divisões raciais e étnicas, institui-se um
Estado capaz apenas de fazer politicazinhas que prevêem a "inclusão"
de uma "minoria" aqui, outra "minoria" ali. Não queremos ser uma
federação de minorias. Queremos ser um país de cidadãos. É isso o que
interessa a todos os brasileiros.

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