12/7/2006
O Brasil já atingiu seu mais prolongado ciclo de crescimento dos
últimos 19 anos e ele ainda tem um bom fôlego. Poucas vezes como
agora o compasso da economia doméstica passou relativamente ao largo
das turbulências externas, que começam novamente a se manifestar. E a
expansão recente não tem sido uma fonte de alimentação inflacionária,
como no passado. A conjunção de fatores favoráveis continua no
horizonte, blindada até certo ponto pela baixa vulnerabilidade
externa construída gradativamente nos últimos anos.
A deflação de 0,21% do IPCA em junho demonstra calmaria no front
inflacionário. No primeiro semestre, o nível geral de preços avançou
1,54%, a menor taxa para o período desde o início do Plano Real, em
1994. Há vários componentes interagindo a favor dos baixos índices.
Um dos mais relevantes é o emagrecimento vigoroso dos preços
administrados. As tarifas de energia estão, na maior parte do país,
apresentando correção negativa e as tarifas de telefonia, que
passarão a vigorar a partir de agora, encolherão em torno de 0,5% a
curto prazo.
Há outros fatores de maior peso empurrando os preços para baixo. A
taxa de câmbio, após encostar perigosamente em R$ 2 por dólar, tem
oscilado entre R$ 2,10 e R$ 2,25, e não dá sinais de que possa sofrer
vigorosas correções no médio prazo. As cotações não serão tão
favoráveis para conter os preços internos como foram nos últimos
meses. A redução modesta do saldo comercial, o recuo dos
investimentos estrangeiros e a revoada de capital de curto prazo para
fora do país indicam que o real poderá iniciar um movimento lento de
valorização, que não deverá causar grandes estragos nos índices de
inflação. Essa expectativa é corroborada pelas projeções do mercado
financeiro, que apontam uma inflação de 4,3% para 2006.
O BC está de olho na inflação de 2007, que está no centro da meta em
suas projeções e em 5,2% nas do mercado. Essa perspectiva de
comportamento dos preços sugere que o movimento de queda dos juros
daqui para frente será comedido, mas ocorrerá. Com isso, haverá
estímulos diretos e indiretos para um crescimento maior. Juros
menores reforçarão a expansão do crédito, que deu saltos fortes no
último triênio e cujo montante se aproxima de um terço do PIB
(32,6%), depois de vegetar por anos ao redor de 25%. O impulso ao
consumo dado pelo crédito virá contrabalançar o peso neutro ou
negativo que as empresas exportadoras estão tendo na expansão das
atividades econômicas, como mostraram os dados da indústria de maio
coletados pelo IBGE. Eles surpreenderam: 1,6% em maio em relação a
abril, 4,8% nos últimos doze meses e 3,3% nos cinco primeiros meses
do ano.
Um dos motores do crescimento foi a produção dos bens intermediários,
que responderam ao decréscimo dos estoques nas indústrias finais. O
impulso do consumo manifestou-se no avanço, ante maio de 2005, dos
bens duráveis, de 4,9%. Os bens de capital avançaram 5,9% no mesmo
período, apesar da grande retração da produção destinada à
agricultura. O crescimento mostra uma ligeira e contínua melhora do
investimento e o recuo da produção de máquinas e equipamentos para as
indústrias indica menos uma diminuição das inversões que a
substituição de bens nacionais por importados, insuflada pelo câmbio
valorizado.
A alavanca do crédito tem sido coadjuvada pela melhoria significativa
no nível de emprego e da renda. Como informou o Valor (10 de julho),
nos últimos 12 meses os empregos com carteira assinada cresceram
5,2%. Nos doze meses encerrados em abril, o rendimento do trabalho
formal cresceu 5,86%, bem mais que os 1,45% do trabalho informal. A
previsão é de que o aumento da ocupação perderá um pouco de espaço
para a renda entre os fatores que impulsionarão o aumento da massa
salarial nos próximos meses.
É forte entre economistas que não estão no governo a crença de que a
fonte maior de garantia da permanência deste cenário será, ao lado do
recuo dos juros, um esforço consistente de contenção dos gastos
públicos. As despesas têm subido. Uma sinalização de austeridade, com
metas definidas de longo prazo, combinada com a intenção de persistir
nas reformas microeconômicas no Congresso, criarão o ambiente e base
necessários para a continuidade do crescimento.