BLOG do JORNALISTA DIEGO CASAGRANDE
Quem acompanhou a eleição presidencial passada certamente não
esqueceu das cenas da Regina Duarte dizendo que temia a eleição desse
governo. Ela tinha razão. Não sei se o medo dela se referia, por
exemplo, ao que acaba de acontecer com Reinaldo Azevedo - que ao lado
de Diogo Mainardi é um dos mais competentes críticos dessa gente que
está no poder, na imprensa brasileira - e cuja mãe teve a casa
invadida e revirada, num evidente gesto de terrorismo e tentativa
infrutífera de intimidação.
Nem todos são capazes de gestos como esse, mas não é de indivíduos
que falamos. É do germe do autoritarismo que existe na cultura
política do partido no poder. Foi conhecendo de perto esse lado
deles, há vinte anos atrás, que perdi minhas ilusões. Graças a eles
descobri que Maquiavel tinha razão na sua leitura sobre a natureza
humana nas relações de poder e interesse.
Mas Maquiavel pode ser lido com dois olhares. Há quem leia e pratique
Maquiavel a partir de uma interpretação literal, como se ainda
vivêssemos na Itália renascentista, numa época em que envenenar
adversários políticos era o esporte preferido dos jogadores do poder.
Há quem o leia e pratique adaptando seus princípios teóricos à
realidade das sociedades democráticas em que a violência bruta não se
admite como recurso de disputa de poder, a não ser quando o Estado,
em nome da Lei, a usa para preservar a ordem e garantir a liberdade
dos cidadãos contra seus transgressores.
A sociedade brasileira conheceu, até agora, apenas uma parte de tudo
o que eles são capazes no poder e pelo poder. Seu lado corrupto e
corruptor. Para quem conhece o movimento sindical, nada disso é
novidade. O destino do poder deles estava escrito em seu passado para
quem viu na origem, como eu vi, os sinais embrionários de tudo isso
que o Brasil descobriu graças ao “garganta profunda”, Roberto Jefferson.
A compra de um exército de parlamentares mercenários para sustentar a
“governabilidade” deles; a distribuição de dinheiro farto para as
ONGs amigas; a transformação do Estado em cabide de emprego da
companheirada; os lucros exorbitantes dos bancos e o bolsa-esmola,
são facetas da mesma moeda, de uma cultura política que compra apoios
de quem quer vender, enquanto prepara a terra e semeia as condições
para consolidar suas posições de poder.
Quando esse dia chegar, se chegar, os primeiros a serem
“dispensados”, serão aqueles que venderam apoio, e sem perceber,
estavam criando cascavéis sob a própria cama.
A instrumentalização da democracia e o uso do dinheiro público a
serviço de um projeto de poder é apenas uma das faces nefastas que
estamos conhecendo. A maneira irresponsável com eles administram o
dinheiro público nessa véspera de eleição é uma mostra de que eles
são capazes de tudo pelo poder, inclusive quebrar o país, desde que
ganhem a eleição.
A outra é uso da violência, tal como é comum se ver em eleições
sindicais, em que o controle das ricas máquinas burocráticas
degenera, não raras vezes, em enfrentamentos físicos e mortes. A luta
armada, os seqüestros, os assaltos a bancos já fizeram parte do
instrumental dessa gente para quem, em nome da causa, tudo é
aceitável e permitido.
Temo que, perdendo ou ganhando a próxima eleição presidencial, o
populismo ao estilo de Hugo Chávez, Evo Morales e Lopez Obrador, será
o próximo passo deles. Se perderem por uma diferença muito pequena,
temo que eles venham a fazer como o populista mexicano Lopez Obrador,
recém derrotado por Calderón: deslegitimar a escolha democrática do
povo, dividir e conflagrar o país. Vão quebrar o Brasil para se
reelegerem e depois vão dizer que é culpa do boicote do imperialismo
internacional.
Vocês já pararam para imaginar o que será do MST, da CUT e da UNE sem
a mesada do governo? E essa companheirada toda sem emprego, do que
não será capaz?
Com um segundo mandato nas mãos, eles vão interpretar a vitória com
um aval para tudo o que praticaram no primeiro governo. Com a vitória
nas urnas, eles vão partir para cima dos críticos e adversários.
Ontem invadiram a casa da mãe do Reinaldo. Amanhã será a sua.
Tendo sido bem sucedidos em comprar apoio de segmentos importantes da
elite política e econômica corruptas, para conquistar o poder a
partir das bases frágeis do primeiro mandato, ao receber das urnas um
segundo mandato, eles irão interpretar que não precisam mais de seus
incômodos “companheiros de viagem”. Virá a fase do monopólio do
poder; da hegemonia. Da supressão da democracia e da liberdade.
Estou com síndrome de Regina Duarte.