Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 13, 2006

O que Dimenstein aprendeu com Marcola b;og do Reinaldo Azevedo

O que Dimenstein aprendeu com Marcola

Abro o UOL e dou de cara com um texto de Gilberto Dimenstein. É o único brasileiro que conseguiu aprender "boas lições com o PCC". O texto dele segue abaixo, em itálico, comentado por mim, em negrito. Se vocês repararem bem, a culpa, segundo ele, por tudo o que acontece é nossa. Quer dizer, "sua", leitor. Ele não é culpado porque já está do lado do bem, já foi iluminado, já aderiu aos bons propósitos. Vamos aos texto e aos comentários:

Os métodos do PCC são terríveis e selvagens, mas há, em tudo isso, uma boa lição de civilidade: estamos vendo como a repressão é limitada para enfrentar a violência. Quanto mais se prende (e é isso o que a opinião pública quer), mais vulnerável fica a sociedade --isso porque o PCC se torna ainda mais forte.
Logo, a melhor maneira de a sociedade não ficar vulnerável é não prender. Segundo esse raciocínio, temos de abrir as portas dos presídios para que nos sintamos todos mais seguros. Reparem que o PCC, na sua equação, torna-se um dado da natureza do problema. Não pode haver presídios sem organização criminosa
Quanto mais se pede tratamento desumano aos presos, num espírito de vingança, mais e mais somos, como estamos vendo, as vítimas, e não só eles, os delinquentes.
Quem é que pede tratamento desumano aos presos, cara pálida? Nós somos vítimas deles, isso é verdade, mas eles são vítimas de quem? Somos todos vítimas? Quer dizer que não existem algozes? Esse conceito do "todo mundo é vítima" se aplica a qualquer situação histórica ou só a esta? Vamos rever a história da humanidade eliminando essa distinção de vítimas e algozes? Vamos reler o mundo à luz do puro vitimismo?

Mais importante do que tudo, quando menos conseguimos oferecer mecanismos de inclusão, evitando a marginalidade infanto-juvenil, o que exige práticas muito melhores de políticas públicas, mais difícil será evitar que o PCC tenha adeptos, por uma simples questão da lei da oferta e da procura.
Vejam aí a máxima de Luiz Inácio Lula da Silva: em maio, o Babalorixá disse que os valentes do PCC, provavelmente, foram crianças sofridas. Dimenstein concorda com o PT nisso também. O mais perigoso no trecho é outra coisa: segundo o raciocínio do jornalista, a sociedade tem de concorrer, na lei da oferta e da procura, com o PCC para oferecer "mais vantagens". Tão humanista até agora, ele institui no campo social o, como vou chamar?, capitalismo selvagem. Há um caso interessante no mundo hoje: segundo essa leitura, Israel deveria concorrer com o Hamas no oferecimento de vantagens para que não se criem novos terroristas. Eu não acho. Eu acho que Israel tem é de jogar um foguete na casa dos líderes terroristas.

Quanto mais retardamos as reformas para que o país cresça, com menos peso do Estado e gastos públicos mais qualificados, mais inseguros ficaremos no futuro, por falta de empregos.
É um caso de dislexia argumentativa. Toda a tese, até aqui, era nada mais do que a leitura que a esquerda e as ONGs, a maioria igualmente de esquerda, tem do problema. Do nada, Dimenstein pede "menos Estado". Como assim? O que esse pedido tem a ver com o resto do texto? Serve apenas ao propósito de demonstrar que ele não é, assim, um Emir Sader, embora pense da mesma maneira.

Essas são as boas lições do PCC.
Errado. Essas são as lições de Gilberto Dimenstein. Eu não sabia que o PCC faz o que faz para que nos tornemos humanistas mais conscientes dos problemas sociais. A propósito: Dimenstein, que sempre opina sobre tudo o que diz respeito aos "problemas sociais", ainda não analisou a proposta de Aloizio Mercadante de criar uma caderneta de poupança para os presos e de melhorar o tempero da comida dos bacanas. Ele deve apoiar. Afinal, como é mesmo? Temos de concorrer, segundo a lei da oferta e da procura, com o PCC... Eu não consigo imaginar vitória do crime maior do que essa. Em vez de a sociedade dar lições ao PCC, é o PCC que dá lições à sociedade. Por isso chegamos aonde chegamos. É o que as ONGs têm a nos dizer. Elas querem que a gente peça desculpa a Marcola.

Arquivo do blog