Na segunda onda de ataques em menos
de dois meses, grupo criminoso volta a
aterrorizar São Paulo e cria a sensação
de que a sociedade toda virou refém de
uma crise sem saída. Conhecer as condições
que geraram essa praga ajuda a encontrar
maneiras de enfrentá-la
Hélvio Romero/AE |
Caminhão incendiado na Marginal Tietê, a principal via expressa de São Paulo: atentados contra o patrimônio e sete assassinatos |
Medo, vergonha, raiva. Essas três reações, agravadas pela sensação generalizada de impotência, voltaram a assaltar os 11 milhões de habitantes de São Paulo na semana passada, quando a organização criminosa autodenominada Primeiro Comando da Capital – o PCC – desfechou a segunda onda de ataques em menos de dois meses, numa versão menos virulenta, mas igualmente assustadora, do "maio sangrento". Entre a madrugada de terça e a tarde de quinta-feira, registraram-se 68 ônibus incendiados, dezesseis agências bancárias atacadas por bomba, seis agentes de segurança e policiais, além de um civil, mortos por bandidos a serviço do "partido do crime", na designação de seus integrantes. De fato, o PCC – que surgiu em 1993, numa penitenciária do interior do estado – é hoje uma eficiente estrutura a serviço de todo tipo de delito previsto no Código Penal: de extorsão, seqüestro e tráfico a roubo a bancos e assassinato. As duas ondas de ataques expõem um paradoxo. Os cabeças da organização estão presos, o que demonstra a eficiência do trabalho policial. Querem, no entanto, ditar as condições em que cumprem suas penas e, ao fazê-lo com explosiva capacidade de comando e coordenação, comprovam que continuam a lançar um repto mortal à autoridade do Estado.
Lawrence Bodnar/Ag. O Globo |
Base da Guarda Civil metralhada na periferia: táticas terroristas planejadas dentro das prisões |
A escalada do crime organizado, que se irradia da capital para o interior e contamina outros estados, tem causas múltiplas e complexas, a começar pelos conhecidos problemas estruturais no campo econômico e social. Há, no entanto, fatores mais imediatos. A reportagem das páginas seguintes analisa os cinco pilares sobre os quais se ergue o poder da facção criminosa que hoje aterroriza São Paulo. São eles:
• a capacidade de organização do PCC;
• o comando das 144 unidades prisionais do estado;
• o conluio de advogados bandidos;
• as brechas na legislação penal;
• os erros na condução da política de segurança pública por parte das autoridades estaduais e federais.
Expostos em conjunto, esses fatores parecem aumentar a sensação de impotência. Mas, como se poderá ver na reportagem, é possível provocar abalos nesses pilares com medidas práticas imediatas ou de médio prazo – e a convicção de que a sociedade das pessoas de bem não se deixará sobrepujar pelo crime.