Mesmo os tucanos mais otimistas não se sentem ainda em condições de
vislumbrar uma vitória eleitoral na mudança dos ventos que a dança
dos números das pesquisas insinua, mas a sucessão de informações
corrobora a tese do candidato Geraldo Alckmin de que “antes de a
novela das 8 mudar de horário”, nada é definitivo nas eleições
brasileiras.
A última pesquisa Vox Populi já mostra a possibilidade de haver
segundo turno na eleição de outubro, e por enquanto quem está tirando
votos de Lula é uma antiga aliada, a senadora Heloísa Helena, que
subindo de 5% para 7% das intenções de voto caminha em direção aos
dois dígitos, ajudando indiretamente o candidato tucano.
Mas não há dúvidas de que Alckmin inicia a campanha este ano em
situação muito mais confortável do que o candidato José Serra em
2002, a começar pelo fato de que terá mais tempo de propaganda
gratuita no rádio e na televisão do que Lula. Serra chegou a 23% dos
votos válidos só no final do primeiro turno, enquanto Alckmin já está
nas pesquisas com 28% hoje. Lula teve 46,4% de votos válidos no
primeiro turno da eleição, número aproximado que aparece para ele
hoje na média das pesquisas eleitorais.
Isso demonstra que o que ele perdeu de eleitores nas classes média e
alta, recuperou nos setores mais pobres da população, especialmente
no Nordeste, onde a última pesquisa do Datafolha lhe dá uma vantagem
de 64% contra apenas 17% de Alckmin na região, diferença que é a
principal razão para estar ainda em condições de poder vencer a
disputa no primeiro turno.
O cientista político Antonio Lavareda, que faz pesquisas eleitorais
para o PFL, diz que é muito difícil que os resultados regionais sejam
tão dispersos como aparecem hoje nas pesquisas eleitorais, com
Alckmin vencendo em algumas localidades, e Lula em outras. Lavareda
garante que em nenhuma das últimas eleições o resultado das regiões
foi diferente.
Em 2002, Lula venceu em todas as regiões do país, assim como Fernando
Henrique nas duas eleições em que derrotou Lula no primeiro turno.
Hoje Alckmin vence no Sul e, segundo algumas pesquisas regionais, já
está superando Lula no Centro-Oeste. No Sudeste, tende a vencer em
São Paulo e a reduzir a diferença para Lula em Minas e no Rio.
No Rio, a avaliação de Lula é 25% de ótimo + bom na capital, mas ele
tem 38% de intenção de votos, uma diferença muito grande na avaliação
dos pefelistas. Segundo essa análise, geralmente o candidato à
reeleição tem de intenção de votos 85% do máximo da avaliação de
ótimo + bom de seu governo. O problema do candidato tucano são as
classes D e E no Nordeste, mas os coordenadores de sua campanha não
acreditam que a diferença se mantenha como está hoje.
Para exemplificar, eles citam as máquinas eleitorais que a coligação
tem na Bahia (PFL), Pernambuco (PMDB) e Ceará (PSDB) para afirmar que
nada indica que a situação ficará como está. Em 2002, o candidato
Serra teve apenas 8,5% de votos no primeiro turno no Ceará, pois o
senador Tasso Jereissati apoiava a candidatura de Ciro Gomes.
Hoje, apesar de o irmão de Ciro ser candidato ao governo do estado
com apoio do grupo de Jereissati, contra o candidato ao governo
tucano Lúcio Alcântara, em nível nacional Tasso está engajado na
campanha de Alckmin, enquanto Lucio Alcântara encoraja a chapa Lulu
(Lúcio e Lula).
Também o senador Antonio Carlos Magalhães apoiou Lula em 2002, e hoje
está mais empenhado do que nunca em derrotá-lo na Bahia. O fato é que
o candidato tucano hoje parece ter palanques regionais bem mais
equilibrados e empenhados em sua eleição do que o candidato José
Serra em 2002. Mesmo os seus rivais internos no PSDB, o governador
Aécio Neves, de Minas, e Serra, têm hoje razões para participar
positivamente na campanha presidencial.
Para Serra, a vitória de Alckmin ajuda a alavancar sua votação para o
governo do estado, e vice-versa. Também o governador Aécio Neves teve
interrompida uma relação cordial com o governo Lula depois que o PT
conseguiu cooptar o PMDB mineiro, tirando-o da coligação que apoiava
Aécio para fortalecer a candidatura de Nilmário Miranda do PT,
desmanchando a chapa que o governador havia montado, com tanto zelo,
com o ex-presidente Itamar Franco candidato ao Senado.
Suplantado dentro do partido pelo ex-governador Newton Cardoso, que
já foi o símbolo do mal para o PT mineiro, mas a quem o presidente
Lula passou a chamar de “companheiro”, Itamar Franco ofereceu seu
apoio a Alckmin, e Aécio viu que era hora de trabalhar com mais
afinco pelo candidato de seu partido.
Existem ainda alguns pontos de interrogação no xadrez partidário,
como por exemplo no Rio Grande do Sul. Ontem o governador Germano
Rigotto, que disputa a reeleição, desmentiu que tenha decidido apoiar
Alckmin, embora acredite-se que ele não tenha outra alternativa, por
que lá a polarização é PT versus PMDB. Rigotto reage ao lançamento da
candidatura da deputado federal Yeda Crusius ao governo pelo PSDB,
sem chances de vitória.
Aliás, o PFL acredita que os tucanos, ao lançarem candidatos a
governos sem condições de vencer em alguns estados, atrapalham a
formação de melhores palanques para Alckmin. Além do Rio Grande do
Sul, estariam nessa lista o Rio de Janeiro, onde o secretário-geral
do partido, deputado federal Eduardo Paes, lançou-se candidato
impedindo um acordo com Denise Frossard, do PPS, que tem o apoio do PFL.
Em Mato Grosso, o PSDB lançou a candidatura do senador Antero Paes
contra o governador Blairo Maggi, do PPS, e em Manaus o senador
Arthur Virgilio é candidato contra Amazonino Mendes, do PFL, que
deverá apoiar Alckmin mesmo assim. (Continua amanhã)