Imagino que alguns brasileiros ainda estão de cabeça quente com a
atuação da seleção canalhinha durante a Copa, que acaba daqui a
pouco. Compreendo, mas não partilho desse sentimento. Pelo contrário,
esqueci o futebol pelo menos por enquanto e, no que seria uma
terrível confissão, se eu não estivesse abandonando a crônica
esportiva amanhã, a verdade é que não estou ligando muito para o
resultado de hoje.
Se estivesse no boteco com os meus incriticáveis companheiros de fim
de semana, aplaudiria ou vaiaria qualquer coisa, inclusive bolas
fora, impedimentos e chutões para cima.
Aliás, minha posição tradicional na mesa do boteco é de costas para a
TV e só me viro para ela em ocasiões importantes, o que para mim não
é o caso hoje. Provavelmente estaria engajado nos papos habituais
para mesas de coroas, ou seja, o colesterol, a pressão arterial, o
exame de próstata e “esses jovens de hoje em dia não estão com nada”,
eis que, como se sabe, o grande defeito das novas gerações é que não
pertencemos mais a elas. Claro, tudo o que se aprende com a idade é
que idade não serve para nada e, se não fosse a desagradável
alternativa, ninguém ia querer fazer 60 anos.
E, mesmo na adversidade (vamos chamar a atuação da seleção de
“adversidade”, embora o nome certo seja outro, ou outros, nem todos
aprováveis pelas senhoras que me honram com sua leitura), há algo de
bom a colher. Agora mesmo, creio que estamos sendo docemente vingados
contra os habitantes do famoso Primeiro Mundo, que vivem perguntando
sobre os crocodilos (sic) e outras feras que circulam à vontade por
nossas cidades.
Pois bem, cuidado com os javalis, se vocês vierem a Berlim. Agora
cresce a praga de javalis que está dando nos arredores daqui e,
anteontem, fomos obrigados a certas cautelas, no jardim de amigos
onde almocei, porque apareceu um javali, que não é considerado um dos
animais mais amáveis da Natureza e cuja dentada pode reduzir joelhos
humanos a farinha. Considerando que, no paraíso da Flórida, várias
pessoas são mordidas por jacarés todo ano e dezenas de animais
domésticos são comidos, já podemos até nos gabar das sucuris de que
temos de nos esquivar sempre que vamos à rua.
E, pensando melhor do que estava no início, há outro ângulo positivo
que me tinha escapado. Vamos torcer, sim, torcer pela Itália. Não só
estaremos apoiando a nossa queridíssima colônia italiana, como o país
de adoção de nossa primeira-dama, que obteve passaporte para si e
seus descendentes e pode ser considerada cidadã italiana (bem como,
imagino eu, poderá tornar-se o presidente, em caso de necessidade, na
condição de consorte de uma italiana). Se a Itália perder, certamente
haverá muita tristeza na família presidencial e não queremos isso,
queremos? Forza, Italia, presidente!