Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 10, 2006

Folha de S.Paulo - São Paulo - Vinicius Mota: Governar é construir presídios - 10/07/2006

Balbinos, pacata cidade na região central do Estado de São Paulo,
encerrou 2005 com 1.339 habitantes. A inauguração de duas
penitenciárias, em 3 de março deste ano, deu início a uma nova era na
cidadezinha. As cifras mais atualizadas dão conta de que o município
já abriga 1.758 presos -mais gente atrás das grades do que livre.
O ritmo frenético de construção de presídios adotado pelo governo
paulista nos últimos anos vai mudando a feição do interior. Basta
viajar pelas boas estradas do Estado para encontrar a inconfundível
arquitetura "prisional" nas mais diversas e inusitadas paragens. Os
nomes falam por si: há cadeias novíssimas em Iaras, Pracinha,
Irapuru, Flórida Paulista, Álvaro de Carvalho, Avanhandava, Lucélia,
Potim, entre muitas outras localidades com população diminuta.
Trabalho de Sísifo. Só para manter onde está o déficit de vagas nas
penitenciárias (de pelo menos 30 mil), o governo paulista teria de
inaugurar no mínimo uma penitenciária "compacta" (768 vagas) a cada
mês. Se a polícia melhorar, como é do nosso desejo, a esquálida taxa
de resolução dos crimes mais graves, então o ritmo de construção de
presídios terá de ser maior. De cada 10 mil paulistas, 35 estão
presos. A taxa é alta para o Brasil, mas ainda pode crescer muito -a
norte-americana, por exemplo, supera 65.
O vencedor da sucessão paulista não terá escolha: sua gestão se
resumirá a encontrar verba para construir mais e mais presídios.
Quando quiser pensar em outro tema, o sucessor de Alckmin terá chance
de se debruçar sobre a Febem. E daí pode variar de novo, para o PCC.
As penitenciárias lotadas representam para os bandidos o que as
fábricas abarrotadas significaram para os trabalhadores no início da
industrialização: um convite natural à organização. A diferença é que
o movimento dos operários civilizou o capitalismo, enquanto a nave do
PCC está na rota da barbárie.

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