Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 10, 2006

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro - Sergio Costa: Manda quem pode - 10/07/2006

- "É do portão para baixo. Mazinho [traficante] mandou avisar que
não é para subir lá! Se subir, nós vamos tosar!". Tradução: matar!
O recado desceu de moto da Vila Cruzeiro, na zona norte, e foi
transmitido aos cabos eleitorais do tucano Eduardo Paes por dois
homens. A comitiva não pensou duas vezes e levou seus panfletos
embora, conforme relataram os repórteres da Folha na edição de sexta.
Ainda na quinta, a juíza Denise Frossard (PPS) estreava na disputa
pelo governo do Estado no morro da Providência, um dos mais violentos
da cidade. Nada mal para quem havia dito que não faria campanha em
favelas por falta de segurança.
A juíza vestiu o terninho, mas tomou seus cuidados. A assessoria
marcara a visita uma semana antes -via representante da prefeitura
que a apóia-, e ligou pela manhã para saber se estava "tudo calmo".
Estava e ela poderia subir. Mesmo assim, escoltada por seguranças e
com o caminho aberto por uma ocupação da PM.
No dia seguinte, foi o senador Marcelo Crivella (PRB), outro
postulante a comandar o Estado não-paralelo, quem deu o recado aos
jornalistas, no Jacarezinho, com sua voz pastoral: "Vocês sabem que
não podem entrar, né?".
Nos dois primeiros dias de campanha, o crime no Rio usou o tucano, a
juíza e o bispo-senador para mostrar quem manda em boa parte da cidade.
Talvez por isso o Rio tenha ficado de fora da onda de terror que São
Paulo enfrenta desde maio.
Aqui, essa fase de afirmação da autoridade paralela das facções é
passado. Territórios estão demarcados há tempos e voltam a ser
referendados agora pelas atitudes dos candidatos -todos eles atores
de um teatrinho faz-de-conta nas favelas. Francamente.

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