Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 15, 2006

Folha de S.Paulo - Madri - Clóvis Rossi: O futuro - 15/07/2006

Se o leitor quiser saber como, potencialmente, se desdobrará o
problema da violência nas grandes cidades brasileiras, sugiro que se
familiarize com o termo "maras", quadrilhas de jovens ou já não tão
jovens, com origem em El Salvador, que se disseminaram pela América
Central (e hoje estão até entre as comunidades hispânicas nos Estados
Unidos).
O relato que ouvi de um especialista em Madri diz que tomaram conta
de El Salvador. Muito mais do que o PCC de São Paulo, porque a ação é
permanente. Ser membro de uma "mara" deixou de ser apenas um meio de
ganhar dinheiro; virou uma questão vital.
Estima-se que haja de 30 mil a 35 mil pessoas envolvidas nas "maras",
em um país pequeno, de meros 6,3 milhões de habitantes. Os peritos
dizem que vivem em um ambiente de violência e percebem-na como
adequada para resolver qualquer tipo de conflito ou até para
conseguir namorada.
Conseqüência inescapável: 90% dos salvadorenhos afirmam não se
sentirem seguros nem em casa nem na rua. Quantos serão em SP?
Agora, leia Gilberto Dimenstein, coluna de ontem: "65% da população
entre 15 e 19 anos mora na periferia, onde faltam os mais diversos
serviços públicos, a começar do policiamento. Esse grupo terá poucas
condições de usufruir de uma educação de qualidade, capaz de levá-lo
a se inserir na sociedade. O caminho mais provável, para muitos, é a
evasão [escolar]". Eu diria: é a criminalidade.
Acrescente trecho do estudo "Barrio Adentro", sobre as gangues
salvadorenhas, que diz: "Combater as "maras" implicará também vencer
os maus exemplos que dão aos jovens os maus governantes, que, muitas
vezes, incorrem em corrupção, arbitrariedade, intolerância, injustiça
e impunidade". Você leu o nosso futuro.

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