O Estado de S. Paulo
12/7/2006
A negociação assumida e francamente fisiológica que resultou no apoio
explícito de parte do PMDB à candidatura do presidente Luiz Inácio da
Silva em troca, numa primeira fase, da presidência e de diretorias
dos Correios, além de duas vagas no comando da campanha à reeleição,
não conta com a concordância de auxiliares diretos do presidente.
Pelo menos dois deles, o ministro das Relações Institucionais, Tarso
Genro, e o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, manifestaram sua
discordância a interlocutores do próprio PMDB que, por sua vez,
também repudiam os termos e a forma do acerto.
É essa divergência que está na raiz da declaração de apoio à
candidatura de Geraldo Alckmin feita ontem à tarde pelo presidente do
PMDB, deputado Michel Temer.
Do lado do governo, a avaliação dos "contra" é a de que o acordo é
imprudente do ponto de vista eleitoral, pois afronta a opinião
pública e abre espaço para uma reaproximação de Lula da memória do
escândalo do mensalão, cuja origem foi exatamente uma briga na
repartição fisiológica dos cargos nos Correios.
Sob o aspecto político, observa-se no Planalto o risco de o acerto se
revelar improdutivo, pois privilegia exatamente a mesma ala de
sempre, sem a inclusão do grupo oposicionista até então disposto a se
aliar ao governo, seja por circunstâncias locais na eleição, seja por
desejo de participar do loteamento partidário da máquina administrativa.
Mais uma vez o presidente Lula teria, por essa análise, insistido
numa fórmula que não deu certo ao longo de seus quatro anos de
mandato para obter o apoio do PMDB: conferido exclusividade de
interlocução à dupla de senadores Renan Calheiros e José Sarney,
acreditando na capacidade de ambos de aglutinar o partido.
O caminho adotado já se mostrou contraproducente no momento em que
foram feitos os convites para o encontro do presidente segunda-feira
à noite com um grupo de pemedebistas, Renan e Sarney à frente, para
formalizar o apoio. Consultados pelo telefone, os oposicionistas
quase-adesistas, recusaram.
Não foram ao jantar na Granja do Torto por dois motivos: primeiro,
perceberam que serviriam apenas como "moldura" para Renan, Sarney e
companhia apresentarem ao presidente credenciais (falsas) de
promotores da unidade e, segundo, porque concluíram que o desgaste
eleitoral de uma negociação feita assim em termos tão explícitos de
barganha não valeria o preço de se submeter ao comando da dupla de
senadores e seus companheiros de sempre, todos muito pouco dispostos
a abrir espaço para os que estavam chegando.
Nesse caso, o custo de se associar à já denominada operação porte-
pago (uma referência à negociação ter sido feita em função da cessão
de cargos nos Correios) não pagaria o benefício que se avizinhava
pífio do apoio ao presidente.
O que boa parte desses oposicionistas quase-adesistas se pergunta é
qual a razão de Lula aceitar acordo tão evidentemente nefasto do
ponto de vista da opinião pública, e que faz dele, senão o único, com
certeza o maior prejudicado.
Para os caciques pemedebistas, a negociata só pode render vantagens,
dado o montante de recursos (R$ 90 milhões) nos Correios para gastos
em publicidade. Para o presidente da República, porém, só haveria
desvantagem em virtude do prejuízo moral.
Se Lula, contrariando a opinião de conselheiros, acreditou que
poderia tratar com o PMDB sem ampliar o espectro de conversas, teve a
prova do equívoco na manifestação de Michel Temer em apoio a Alckmin
depois de o PMDB paulista já ter anunciado a decisão de ficar neutro.
Dificilmente Temer tomou tal decisão antes de conversar muito bem
conversado com Orestes Quércia.
Vetos
No lugar de aprovar novos aumentos para os benefícios dos aposentados
para forçar Lula a um novo constrangimento político, a oposição
atuaria sem subterfúgios se derrubasse o veto do presidente da
República ao reajuste de 16,6%.
O problema são as condições objetivas: segundo levantamento feito
pelo senador Marco Maciel, há 500 vetos presidenciais pendentes de
votação pelo Congresso, alguns da época de Itamar Franco, esperando
votação há 12 anos.
Se não se reúne para resolver o passivo, não seria agora, quando
Câmara e Senado são comandados por governistas, que o Congresso faria
sessão para contrariar a posição do presidente.
Bem-bom
Se 96% dos 513 deputados federais disputarão mandatos - de deputado,
senador ou governador - em outubro, como atesta pesquisa do
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), é falso
o desencanto com a política manifestado por 10 entre 10 excelências
queixosas da má imagem que têm e do tratamento entre indiferente e
revoltado que recebem do público por onde andam.
Não sendo o reconhecimento da população por serviços prestados o que
procuram nem a beleza do exercício da política o que os atrai, algo
de especial - e fora do alcance da visão dos comuns - buscam nos
mandatos eletivos.