Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 12, 2006

Celso Ming - Coalizão para governar

O Estado de S. Paulo
12/7/2006

O presidente Lula tem revelado a vários dos seus interlocutores que,
se eleito, pretende construir nova coalizão de governo, não mais
fundada na atual base parlamentar, mas em esquema mais amplo,
parecido com o atual modelo chileno.

Ainda não está claro o que isso significa, como também não é
absolutamente certo que Lula será reeleito. Em todo o caso, a questão
da governabilidade é o grande problema político imediato a ser
enfrentado pelo próximo presidente da República, seja quem for o
vitorioso nas urnas. Sem solução desse problema não será possível
contar com a consolidação dos fundamentos da economia e nem mesmo com
um mínimo de crescimento do PIB.

O presidente Lula sabe que enfrentará problemas de apoio no Congresso
porque, depois de tudo o que aconteceu, o PT poderá perder entre 30%
e 40% das cadeiras, como vêm calculando os analistas políticos. Se o
vencedor for outro candidato, o problema da base de sustentação não
será muito diferente.

Somente uma ampla união nacional parece capaz de garantir o
encaminhamento das reformas, sem cuja aprovação o crescimento
econômico futuro ficará comprometido. São as reformas da Previdência
Social, do Sistema Tributário, do Judiciário, do Sistema Político e
das Regras Trabalhistas e Sindicais.

A solução óbvia é a construção de algo parecido com o Pacto de
Moncloa, celebrado em 1977 na Espanha por ocasião da redemocratização
do país, que uniu as principais forças políticas, garantiu a
governabilidade e foi o fator político que deu à Espanha condições de
promover o salto econômico do qual desfruta hoje. O modelo chileno
também cabe bem no caso brasileiro.

Se o presidente Lula vencer estas eleições, dificilmente seu sucessor
sairá dos quadros do PT, que não tem candidato natural à Presidência
da República em 2010. Em contrapartida, o PSDB tem pelo menos três: o
governador de Minas, Aécio Neves, o atual candidato ao governo
paulista, José Serra, e o ex-governador paulista, Geraldo Alckmin.

Há quem argumente que a campanha eleitoral deste ano será tão
corrosiva que destruirá quaisquer tentativas futuras de construção de
um pacto deste tipo. Mas essa é uma suposição destituída de
fundamentação política. Dificilmente se poderá pensar em algo mais
corrosivo para a candidatura Lula do que as denúncias feitas ao longo
dos últimos três anos de governo, que, no entanto, não abalaram em
nada o prestígio do presidente junto ao eleitorado.

Além disso, um pedaço enorme da oposição, ou, mais especialmente, do
PSDB, não tem interesse em hostilizar demais o presidente Lula porque
não quer semear os ventos que poderão produzir tempestades nas
relações futuras. Aécio Neves e José Serra já se sentem eleitos para
o próximo mandato de governador e entendem que é preciso um mínimo de
sintonia com o governo federal para uma boa administração.

E, de tudo quanto se sabe, desta vez, o presidente Lula já se livrou
do companheiro José Dirceu, que, no início da atual administração,
torpedeou todas as tentativas de construção de um pacto de
governabilidade entre governo e oposição.

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