Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 03, 2006

Cobras criadas

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Cobras criadas

Como um movimento popular
fez de Serpentes a Bordo o filme
mais quente da nova temporada


Isabela Boscov

Kevin Winter/Getty Images
Jackson no MTV Awards: "Já ganhei"


Para quem sabe domá-la, a internet é hoje uma das mais poderosas ferramentas de marketing de que Hollywood dispõe – como podem atestar os diretores de A Bruxa de Blair, que usaram a rede para criar um frenesi em torno de seu filme antes mesmo que ele chegasse aos cinemas, ou o neozelandês Peter Jackson, que em vez de brigar com os fãs de O Senhor dos Anéis prestou conta a eles, via blogs e websites, durante toda a filmagem de sua saga, e angariou assim seu apoio. Não há notícia, porém, de um fenômeno semelhante ao que se observa agora com Serpentes a Bordo, ou Snakes on a Plane, que tem estréia marcada para agosto nos Estados Unidos e setembro no Brasil. Na trama, Samuel L. Jackson faz um agente do FBI que escolta uma testemunha crucial num processo contra a Máfia em um vôo para Los Angeles. A fim de evitar que esse canário cante no tribunal, os gângsteres concebem um plano mirabolante: despejam algumas centenas de víboras dentro da aeronave. De forma muito diplomática, o diretor David Ellis (do igualmente literal Celular) propôs à produtora New Line que Snakes on a Plane fosse um "título de trabalho" .– um codinome usado para fins práticos, até que se chegasse a uma idéia melhor. Sua esperança, entretanto, sempre foi a de emplacar seu título como o definitivo. Ellis conseguiu o que queria – graças a um movimento popular sem precedentes.

Assim que a primeira notícia sobre a produção do filme despontou, meses atrás, seu título inusitado atraiu aquele pessoal que faz de navegar e trocar idéias na internet sua razão de ser. Da noite para o dia, a rede se viu inundada de pôsteres para Snakes on a Plane, canções para sua trilha, sugestões de cenas e até dicas para futuras paródias (uma das melhores: Hamlet 2 – Snakes on a Dane). Tudo criado espontaneamente pelos fãs. Mas, como nem todo mundo tem o senso de humor de Jackson (que assinou o contrato com base no título), a New Line decidiu, a certa altura, rebatizar o filme com o mais convencional Pacific Air Flight 121. O que se viu foi uma revolta das massas (e do astro, que disse cobras e também lagartos sobre o estúdio). Finalmente persuadida do poder da marca que tinha em mãos, a New Line voltou atrás. De quebra, marcou cinco dias adicionais de filmagens, para turbinar a violência – outro pedido dos fãs – e incluir uma fala sugerida a Jackson por um blogueiro: "Quero essas p****s de cobras fora dessa p***a de avião". (Como definiu a revista Time, ele é o Laurence Olivier do palavrão.) A única dúvida do estúdio agora é se será possível manter esse ímpeto até a esperadíssima estréia do filme. Jackson não tem dúvida de que sim. Ovacionado num discurso no MTV Movie Awards, há algumas semanas, ele definiu assim suas chances na premiação do ano que vem: "Já ganhei". Tudo indica que ele tem razão.

 

 

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