Folha de S. Paulo
14/7/2006
Em um esforço sobre-humano, vou acreditar no ministro Tarso Genro
quando diz que é "irrestrita" a disposição do governo federal de
ajudar São Paulo a enfrentar a crise de segurança. Seria tão obsceno
tentar tirar proveito eleitoral de uma situação como a que vive o
Estado que não dá para imaginar essa hipótese. Nem o Brasil desceria
tão baixo.
Da mesma forma, vou acreditar que o governador Cláudio Lembo recusa a
tal Força Nacional de Segurança (que de todo modo não parece ser o
Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos) porque não considera
necessário, não porque prejudicaria a candidatura de seu antecessor.
Dito isto, no entanto, chega a ser imoral a inação das autoridades no
caso. O PCC não nasceu ontem. Os ataques a alvos diversos tiveram um
auge há pouco mais de dois meses. Os assassinatos de agentes
carcerários (para não mencionar ataques a ônibus, bancos etc.) não
começaram ontem. Será que ninguém desenvolveu uma idéia, uma que
fosse, para tentar garantir a vida da população em geral e dos
agentes em particular, além de assegurar também o direito
constitucional de ir e vir?
Aliás, para ser bem prático, qualquer plano teria que começar com a
demissão sumária do secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu
Filho, capaz de dizer a enormidade adiante reproduzida: "Se você
comparar [a situação de maio] com o que está acontecendo, houve
regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade".
Mais "saulices": "Nós não vamos ficar reféns dessa situação". Alguém
precisa combinar com o rapaz que São Paulo já ficou refém. Quando
ônibus deixam de circular, por conta da ação de um grupo, a cidade
está refém. Só o responsável pela sua segurança não percebe. Alguma
surpresa com a crise?