Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 03, 2006

Celso Ming - E a corporação Brasil? O Estado de S. Paulo

2/7/2006

Entre as explicações para a demissão do ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues, está a de que as decisões de sua pasta vinham
trombando com os interesses de suas próprias bases setoriais.

Traduzindo: o agronegócio passa por sérias dificuldades que se
acreditam conjunturais; como o governo não vinha atendendo
satisfatoriamente a suas reivindicações por medidas compensatórias,
ficou solapado o chão de sustentação política do ministro. Não houve
mais remédio, o ministro teve de sair.

Isso significa que o entendimento é o de que o ministro da
Agricultura está no governo para atender aos reclamos do agronegócio
e não ao interesse geral. Esse entendimento não se limita ao
Ministério da Agricultura.

Tudo se passa como se boa parte das altas repartições públicas do
País estivesse loteada entre corporações. O ministro do
Desenvolvimento, Luiz Furlan, não esconde de ninguém que defende o
setor produtivo, especialmente a indústria e os exportadores. Por
isso, quando se bate por uma desvalorização cambial ou pela derrubada
dos juros, está pouco ligando para outras razões de Estado ou de
governo que eventualmente estivessem exigindo o contrário.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, faz o jogo dos sindicatos. Sua
atitude é a defesa intransigente dos interesses do trabalhador, que
incluem reajustes polpudos do salário mínimo e ampliação das
conquistas trabalhistas, pouco se importando com o impacto dessas
decisões sobre as finanças públicas e sobre o setor produtivo.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abraçou as teses dos
ambientalistas e não olha para mais nada, nem para as conseqüências
sobre o emprego e o setor produtivo de tantos atrasos nos cronogramas
de obras de infra-estrutura nem para a estagnação das pesquisas na
área dos transgênicos.

Embora possa não ser verdade, argumenta-se que o Banco Central
favorece os banqueiros e que o Ministério da Educação atende ao lobby
das grandes organizações de ensino. Os exportadores há anos
reivindicam a criação de um organismo que só atenda ao setor
exportador e não necessariamente ao comércio exterior. A Justiça do
Trabalho favorece notoriamente a parte considerada mais fraca,
portanto o trabalhador. Uma das classificações mais usuais entre os
políticos é a de que o Congresso está dividido em bancadas:
Ruralista, Evangélica, Sindicalista, Nordestina, da Bala (Segurança),
da Saúde... e assim vai.

Quando saiu a notícia de que o novo ministro da Agricultura seria o
agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto, a primeira suposição foi de que
passaria a favorecer os interesses dos Sem-Terra. Ou seja, com a
saída do ministro Rodrigues, os pleitos do agronegócio dentro do
governo ficariam sem cobertura e suas lideranças ficariam liberadas
para bater no governo.

O que isso quer dizer? Que prevalece no Brasil uma forte mentalidade
corporativista, a mesma que fincou raízes durante o período Vargas.
Cada corporação se faz representada dentro do governo e briga por
seus interesses supostamente arbitrados pela autoridade da hora.
Dessa forma, poucas condições há para que prevaleça o interesse da
Corporação Brasil.

Por isso, pouco espaço há para se discutir questões de interesse
público: o sistema de metas, a política cambial, a reforma
tributária, a reforma da Previdência, a reforma política.

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